terça-feira, 19 de agosto de 2008

[Diário de Bordo - primeira parte]

Postado originalmente em 08/08/08

Como contei no Desvairios, estou do outro lado do mundo. Nova Zelândia, terra dos Kiwi-birds, das Kiwi-fruits e dos Kiwi-people. Não é falta de imaginação deles, é falta de variedade mesmo.
Cheguei no dia primeiro de junho, depois de quatorze horas chatíssimas de vôo. Tá bom, tá bom... Não foram tão chatas assim... Vim metade do tempo conversando com o Samir, um cara de Brasília que estava vindo passar quinze dias em Auckland. E que pegou meu MSN e nunca me adicionou... Enfim...
Das quatorze horas de vôo, duas (ou três?) foram de São Paulo a Buenos Aires. Graças às nuvens, não pude ter uma visão das luzes de São Paulo (São Paulo, São Paulo... minha cidade-luz...) como pensei que teria. Mas vi Buenos Aires. E o que posso dizer é que é uma cidade quadrada. As luzes são quadradas, os quarteirões são quadrados, os bairros são quadrados. Tudo parece milimetricamente medido para não deixar nada fora do quadrado ("ado... a-ado... cada um no seu quadrado..."). Tenho pra mim que deve haver virginianos demais naquela cidade. Mantenho distância.
Desci no aeroporto de Buenos Aires para enfim pegar o vôo para cá. Passei pelo raio-x novamente, mostrei meu passaporte para um simpático tiozinho que me deu "Bom Dia" em português, fui me encaminhando para o portão de embarque... Êpa! Que é isso? Querem revistar minha mochila? Tá, tudo bem... Tudo em nome do protocolo... Abro minha mochila, uma argentina de nariz empinado (pleonasmo?) dá uma olhada por cima e pergunta num portunhol desgraçado "Usted tiene algun baton?". Ao que eu prontamente (e inocentemente) abro minha bolsa para mostrar meu gloss cor-de-rosa de lojinha de 1,99 que já estava pela metade. A argentina de nariz empinado (pleonasmo... pleonasmo...)
simplesmente pega meu gloss e tira da bolsa. Até aí, tudo bem... Afinal, era só 1,99 e já estava acabando. De repente, ela vê algo a mais na minha bolsa, enfia a mão dentro dela e sai com a minha base 3 em 1 da Avon que eu tinha acabado de comprar por 30 reais da Tia Estela. Protesto "Mas é só uma base!", e ela "Usted tiene alguna sacola?". Numa última tentativa, abro aquela sacolinha plástica que guardo na carteira para casos de emergência, ao que ela responde "No, no... Zip-loc?". Minha esperança se esvai, fecho minha bolsa e saio revoltada com a argentina de nariz empinado (pleon... tá, já falei...).

Finalmente, sem gloss de 1,99 e base 3 em 1 da Avon, embarco no vôo número qualquer coisa da Aerolíneas Argentinas (também conhecida como "Viação Piracema" ou "aviões com goteira"). Doze horas, um enjôo, duas vomitadas e muita Coca-cola depois, aterrisso em Auckland, ilha Norte da Nova Zelândia. Feliz, feliz... Feliz o caramba, agora é que o bicho pega e a porca torce o rabo. Passar pela alfândega.
Muito bem, Tatiana... Muito bem... Calma, isso é normal, isso é normal... Coração na boca, mochila nas costas e bolsa com certos itens de maquiagem faltando, mostro meu passaporte à mulher. Ela pergunta o que vim fazer aqui. Turismo, vim passear durante as férias. Quem pagou a viagem? Meu pai, oras...
Fico esperando ela desconfiar da reserva fajuta de hotel, me mandar para a salinha da imigração para responder mil e uma perguntas, às quais eu certamente não saberia responder, entraria em desespero e seria mandada de volta para o Brasil em mais 14 horas de viagem estressante e... Ela carimba meu passaporte.
Pego os papéis, guardo tudo na mochila (ou tento, minhas mãos tremem tanto que cai tudo no chão). Vou até a esteira de bagagens, pego a minha (depois de muito esperar na esteira errada). Então, depois de quatorze horas, entro finalmente em solo Neo-Zelandês. Mas eu estava na Ilha Norte e precisava pegar ainda mais um vôo até chegar em Christchurch, onde finalmente meu namorado estaria me esperando para irmos para casa.

Procuro dentro do aeroporto o guichê da Qantas. Chego para a mulher e entrego o ticket eletrônico. Ela olha, olha, sorri para mim e diz algo muito parecido com "mistic". Eu "Céus, o que é que místico tem a ver? Será que eles acreditam nessas coisas por aqui?". Pergunto novamente, ela aponta para uma placa e diz: "You have to go to 'do mistic' airport". Eu "Tá que que 'do mistic' tem a ver com as calças?". Olho para onde ela aponta. "Domestic Flights". Ahhhhhh!!!! Agora tudo faz sentido... Ela manda eu seguir a linha branca no chão, eu ponho a mala num carrinho e vou. E vou. E vou. E vou. E continuo indo. E nada de aeroporto doméstico. E vou. Até que, depois de muito andar no frio de quem acabou de chegar de um país tropical em um outro quase dentro do Círculo Polar Antártico, encontro o tal do aeroporto doméstico.
Despacho a mala, pego minha mochila e subo as escadas. Passo pelo raio-x e... Quê? Querem xeretar minha mochila, de novo??? Bom, pelo menos agora não tem mais nada com que eles possam encrencar e... Quê? Meu chaveiro? Qual o problema com meu chaveiro? Sim, ele tem o formato de um shuriken, mas meu tio trouxe do Japão, não tem problema nenhum e... Ah, sim... Eles acham que eu posso matar alguém com o meu chaveiro. Segurando o riso por imaginar a cena, pergunto o que posso fazer. Ela diz para eu despachar minha mochila. Ótimo, só isso? Pelo menos não vão roubar meu chaveiro... Desço as escadas para despachar a mochila e... Excesso de peso. Rio na cara do tiozinho simpático do guichê, digo que tenho que despachar a mala por causa de um chaveiro. Ele olha para o chaveiro, olha para mim e diz "Dá o papel da mala que você já despachou que eu ponho seu chaveiro lá dentro". Quê??? Jura??? Feliz da vida, entrego o chaveiro e o papel da mala pra ele. Negócio resolvido.
Subo novamente as escadas, passo (novamente) pelo raio-x (não, ninguém encrencou com o meu pacote de absorventes... E olha que eu podia matar alguém com aquilo, hem?) e entro na sala de embarque. Vazia. Sento e fico esperando. Ansiosa demais para dormir. Espero, espero, espero... A sala começa a encher. A sala enche. Levanto da minha cadeirinha para esticar as pernas e quando volto não tenho mais cadeira. Sento no chão. Um casal joga dominó do meu lado. E eu espero. O outro vôo, que deveria sair meia hora depois do meu, sai. Ótimo, pra piorar meu vôo atrasa. A essa hora, o Ju já está esperando em Christchurch. Quase na hora em que eu deveria estar aterrissando, meu vôo sai. Mais uma hora e meia de vôo. Juro que depois dessa, não quero ver avião pelos próximos seis meses.

Chego em Christchurch, pego minha mala e de repente sou atacada por alguém que me abraça por trás. Sim, o Ju. Beijos, beijos, beijos e mais beijos. Vamos para o carro, o Eltoni nos deixa no hotel.
Sim, no hotel. Minha primeira noite na Nova Zelândia será em grande estilo. Suíte deliciosa, cama King Size, banheira. Aproveito tudo, inclusive a comida não-lá-muito-saborosa-mas-tá-valendo. Passeio em Christchurch, passo frio. Delícia.

E para a primeira parte do meu diário de bordo, já escrevi até demais. Sabe como é, às vezes me empolgo.
Volto em breve com a segunda parte.
Aos que leram até o fim, aguardem.

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