quinta-feira, 21 de agosto de 2008

[Uma Palavra Sobre os Kiwi-Birds]


[Simpáticos e Amistosos. Mas afinal, quem são estes tais Kiwi-Birds?]

Lembro da primeira vez em que ouvi falar sobre uma espécie de ave que existia num tal país chamado Nova Zelândia, lá pras bandas da Austrália, chamada de Kiwi. Era em um Atlas Ilustrado colecionável da revista Disney Explora. Tinha um adesivinho com este tal pássaro-com-nome-de-fruta para colar naquela ilha-do-lado-da-Austrália.
Tinha também algumas curiosidades, como por exemplo: os Kiwis são as únicas aves que possuem as narinas na ponta dos seus longos bicos, que eles usam para conseguir encontrar bichinhos apetitosos no meio da terra.
Após muito tempo, quando eu tinha mais ou menos uns 15 anos, fui com meus pais a um museu ornitológico (que eu esperava que estivesse cheio de ornitorrincos, mas não foi o caso...) e havia, dentro de uma proteção especial de vidro, um tal desses Kiwis empalhado. Ele era pequeno, mais ou menos do tamanho de um pintinho meio crescido.
Assim se passaram mais alguns anos. Muita coisa aconteceu, eu comecei a namorar, mudei de cidade, mudei de novo, fiz quatro meses de faculdade de cinema, desisti da faculdade, continuei com o mesmo namorado. Até que um dia aconteceu do irmão dele resolver ir para o tal país-perto-da-Austrália para trabalhar. Alguns meses depois, o Ju (meu namorado) decidiu também seguir por aqueles caminhos. E eu fiquei sozinha pelas terras tupiniquins por mais alguns meses.
Enfim eu aportei na Terra dos Kiwis, aquelas avezinhas do tamanho de pintinhos com narinas na ponta do bico. Certo, certo... Então agora vamos conhecer estas tais avezinhas. Um tipo zoológico em Christchurch, lá vou eu conhecer os pintinhos de longos bicos com narinas na ponta e... PERAÍ! O que são estas galinhonas enormes, gordas e desengonçadas com longos bicos e pernas compridas??? Essas coisas são os tais Kiwis???
Altamente decepcionada, volto para casa. Tudo bem, sem problemas... Eu supero.

[Quê? Eu cruzei o mundo inteiro para ver ISSO???]

Agora sim, a curiosidade curiosa sobre os Kiwis: eles não simplesmente são um símbolo da Nova Zelândia. Eles são simplesmente o único verdadeiro símbolo da Nova Zelândia. Não é à toa que os próprios neozelandeses se chamam de Kiwis.
Eles têm uma verdadeira obsessão pela tal galinhona marrom (existe cor mais sem graça do que marrom?) desengonçada com longos bicos e pernas compridas. Só para se ter uma idéia, no tal zoológico onde minha ilusão foi desfeita eles ficam em uma casinha de madeira completamente isolada do resto, climatizada, com sons e cenário do hábitat natural, escura (porque eles são animais noturnos) e cada pessoa que entra é obrigada antes a passar por um corredor escuro para se acostumar e ser capaz de enxergá-los. E é proibido tirar fotos, filmar, gravar sons, tocar os animais, falar alto ou fazer qualquer barulho muito alto que possa assustar os tais bichões.
Ou seja, são tratados quase como deuses.

Sim, eu me divirto muito por aqui...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

[Alguns fatos sobre os Kiwi-People]

1 - Eles cozinham mal. Não que seja exatamente culpa deles, afinal são herdeiros dos notoriamente péssimos cozinheiros ingleses. Mas cozinham mal. E o pior: mesmo cozinhando em casa, nossa comida não fica a mesma coisa da comidinha-brasileira-nossa-de-cada-dia. O sal não salga, o açúcar não adoça, a carne não tem gosto. Tomate aqui só não custa mais caro do que alho (Tomate NZ$7,00/kg x NZ$13,00/kg Alho), o que altamente invibializa o bom tempero das coisas. Até que com um certo esforço dá para se temperar decentemente alguma comida. Então entra o segundo problema: Os fogões não esquentam. Não que isso seja uma máxima, mas a grande maioria dos fogões aqui são elétricos, e fogões elétricos podem ser bonitinhos e superfáceis de limpar, mas no quesito "esquentar" ele perde e feio para o bom-e-velho fogão a gás.
Tudo isto nos leva ao segundo fato sobre os Kiwis, que é...

2 - Eles comem mal. Torradas com geléia, bacon e ovos no café da manhã é a melhor refeição que eles têm ao longo do dia. Almoço? Um lanchinho com queijo-e-bacon tá ótimo. Jantar? Qualquer coisa bastante gordurosa e com bacon tá ótimo para eles. Não é à toa que eles estranham quando vêem a brasileirada aqui comendo pratada de arroz com feijão no almoço.
Por outro lado, eles têm uma variedade incrível de porcarias fáceis de cozinhar. Feijão e macarrão em lata, legumes congelados, comidas congeladas e enlatados em geral... Isso não pode faltar na geladeira de um legítimo Kiwi.

3 - Eles bebem muito. Não sei se andei tendo maus exemplos de Kiwis por aqui, mas pelo que conheço, eles bebem muito. E muito. Cerveja e Bourbon (que é uísque com coca-cola em lata) são os campeões de vendas aqui. E como vendem...

4 - Eles têm um sotaque terrível. Sério, chega ao ponto dos próprios nativos de lingua inglesa não conseguirem se comunicar com os Kiwis! Toda e qualquer palavra que possua o som "e" ou "é" é automaticamente substituído por "i". Assim, "egg" vira "ig", "ten" vira "tin", "stain" vira "stin". além disso, eles têm algum tipo de influência mineira que faz com que eles cortem as palavras de uma frase no meio. Para que dizer "Would you please give me the butter?" se você pode dizer "Woo ya plees gimme the butt?".

5 - Eles são pacientes, amáveis e prontos para ajudar. Claro que estou generalizando, mas tudo o que disse até agora é baseado exclusivamente nas minhas experiências por aqui. Mas eles têm uma paciência sobrenatural conosco, pobres brasileiros que não nasceram falando inglês. Falam devagar, repetem mil vezes se for preciso, explicam quando a gente não entende. E se apaixonaram profundamente pelo modo de vida brasileiro, as amizades, as noções de família. O que, a propósito, nos leva ao próximo item:

6 - Eles têm uma noção totalmente diferente sobre relacionamentos. "Ficar" aqui é absolutamente comum. Mas beijo na boca é algo extremamente íntimo e sério. As mulheres nos pubs dançam em cima das mesas, se esfregam nos homens e tiram a roupa, mas necas de beijo na boca. Outro dia um casal amigo nosso se beijou no pub e os kiwis ficaram olhando como se fosse coisa de outro mundo.
As amizades aqui são mais frias, mais distantes. O mesmo vale para a família. Outro dia morreu o avô do gerente aqui da fazenda e ele nos contou como se estivesse falando da rotina no trabalho. Tipo: "Amanhã você tomam conta do shed direitinho, pegam as vacas lá no pasto, milkam elas porque eu tenho o enterro do meu avô para ir, tá?".
Nós, pobres e humildes latinos, ficamos sem entender nada.

Tudo bem, somos raças inferiores, nem tentaremos entender...

Mas verdade é que estou amando muito tudo isso.


terça-feira, 19 de agosto de 2008

[Sheep na Cidade Grande]

Postado originalmente em 18/08/08

Eis aí aquelas que, junto com os kiwi-birds, o rubgy e a folhinha-que-eu-não-sei-como-chama, é um dos maiores símbolos da terra dos Kiwis. Ou das ovelhas. Enfim.

Dizem que há alguns anos havia cerca de 4 ovelhas para cada habitante do país. Agora a criação de ovelhas está perdendo espaço para as vacas. Como disse a Dawn (nossa "kiwi-mom"), antigamente se andava nas estradas e dava para contar "Ovelha, ovelha, ovelha, ovelha... Oh! Olha! Uma vaca! Uma vaca! Ovelha, ovelha, ovelha...", mas que de uns anos para cá tem sido "Vaca, vaca, vaca, vaca... Oh! Olha! Uma ovelha! Uma ovelha! Vaca, vaca, vaca...".
Também há as criações de lhamas, alpacas (umas primas menores das lhamas) e veados, mas é bem raro de se ver.

As ovelhas são famosas aqui por serem uns dos seres mais estúpidos do Universo. Tenho minhas dúvidas, porque a concorrência humana está ferrenha. Mas ainda assim, fato é que um dos esportes mais divertidos é passar ao lado de um pasto cheio de ovelhas tranqüilas e pastantes e dar uma daquelas buzinadas legais. É um Deus-nos-acuda geral, ovelha correndo pra tudo quanto é lado, desesperadas, coitadas.
Para mim, isso faz elas serem muito mais inteligentes do que as vacas, que se você buzina, ficam olhando para a sua cara tentando entender quem é você, o que está fazendo e qual o sentido delas estarem mastigando pela quarta vez o mesmo bolo de capim.

Nessa época do ano tanto as ovelhas quanto as vacas estão dando cria, então é comum passar pelos pastos e ver os carneirinhos pulantes atrás de suas mamães. Outro dia estava eu tomando uma cerveja com a Érica em Hororata (uma micro-cidade aqui perto) e observando as ovelhas e seus filhotinhos no pasto em frente. Os carneirinhos vinham pulando para mamar, enfiavam as cabeças nas tetas das mamães e abanavam os rabos tão freneticamente que mal conseguiam se manter firmes mamando. Sério, como cachorrinhos. Coisa mais fofa do mundo!

Já as vacas não ficam com seus bezerrinhos, que são separados desde o nascimento para não beberem muito do precioso leite de suas mamães. Sem contar que eles só ficam com as fêmeas, os bezerros machos ficam esperando por uma semana, mais ou menos, para ver se alguém quer comprar. Se ninguém quer, eles matam todos.
Sim, triste e desumano.
Mas a Drica (que mora aqui com a gente) adotou um dos bezerrinhos, que nasceu de olhos azuis. Assim que ele tiver tamanho suficiente, vem para o nosso quintal virar o nosso pet. Chama Ralf (o mesmo nome do meu lobo em pele de cordeiro, mas juro que o meu veio antes).

Enfim, já discorri o suficiente sobre ovelhas, vacas e kiwis em geral.
See you soon! ;)

[Diário de Bordo - primeira parte]

Postado originalmente em 08/08/08

Como contei no Desvairios, estou do outro lado do mundo. Nova Zelândia, terra dos Kiwi-birds, das Kiwi-fruits e dos Kiwi-people. Não é falta de imaginação deles, é falta de variedade mesmo.
Cheguei no dia primeiro de junho, depois de quatorze horas chatíssimas de vôo. Tá bom, tá bom... Não foram tão chatas assim... Vim metade do tempo conversando com o Samir, um cara de Brasília que estava vindo passar quinze dias em Auckland. E que pegou meu MSN e nunca me adicionou... Enfim...
Das quatorze horas de vôo, duas (ou três?) foram de São Paulo a Buenos Aires. Graças às nuvens, não pude ter uma visão das luzes de São Paulo (São Paulo, São Paulo... minha cidade-luz...) como pensei que teria. Mas vi Buenos Aires. E o que posso dizer é que é uma cidade quadrada. As luzes são quadradas, os quarteirões são quadrados, os bairros são quadrados. Tudo parece milimetricamente medido para não deixar nada fora do quadrado ("ado... a-ado... cada um no seu quadrado..."). Tenho pra mim que deve haver virginianos demais naquela cidade. Mantenho distância.
Desci no aeroporto de Buenos Aires para enfim pegar o vôo para cá. Passei pelo raio-x novamente, mostrei meu passaporte para um simpático tiozinho que me deu "Bom Dia" em português, fui me encaminhando para o portão de embarque... Êpa! Que é isso? Querem revistar minha mochila? Tá, tudo bem... Tudo em nome do protocolo... Abro minha mochila, uma argentina de nariz empinado (pleonasmo?) dá uma olhada por cima e pergunta num portunhol desgraçado "Usted tiene algun baton?". Ao que eu prontamente (e inocentemente) abro minha bolsa para mostrar meu gloss cor-de-rosa de lojinha de 1,99 que já estava pela metade. A argentina de nariz empinado (pleonasmo... pleonasmo...)
simplesmente pega meu gloss e tira da bolsa. Até aí, tudo bem... Afinal, era só 1,99 e já estava acabando. De repente, ela vê algo a mais na minha bolsa, enfia a mão dentro dela e sai com a minha base 3 em 1 da Avon que eu tinha acabado de comprar por 30 reais da Tia Estela. Protesto "Mas é só uma base!", e ela "Usted tiene alguna sacola?". Numa última tentativa, abro aquela sacolinha plástica que guardo na carteira para casos de emergência, ao que ela responde "No, no... Zip-loc?". Minha esperança se esvai, fecho minha bolsa e saio revoltada com a argentina de nariz empinado (pleon... tá, já falei...).

Finalmente, sem gloss de 1,99 e base 3 em 1 da Avon, embarco no vôo número qualquer coisa da Aerolíneas Argentinas (também conhecida como "Viação Piracema" ou "aviões com goteira"). Doze horas, um enjôo, duas vomitadas e muita Coca-cola depois, aterrisso em Auckland, ilha Norte da Nova Zelândia. Feliz, feliz... Feliz o caramba, agora é que o bicho pega e a porca torce o rabo. Passar pela alfândega.
Muito bem, Tatiana... Muito bem... Calma, isso é normal, isso é normal... Coração na boca, mochila nas costas e bolsa com certos itens de maquiagem faltando, mostro meu passaporte à mulher. Ela pergunta o que vim fazer aqui. Turismo, vim passear durante as férias. Quem pagou a viagem? Meu pai, oras...
Fico esperando ela desconfiar da reserva fajuta de hotel, me mandar para a salinha da imigração para responder mil e uma perguntas, às quais eu certamente não saberia responder, entraria em desespero e seria mandada de volta para o Brasil em mais 14 horas de viagem estressante e... Ela carimba meu passaporte.
Pego os papéis, guardo tudo na mochila (ou tento, minhas mãos tremem tanto que cai tudo no chão). Vou até a esteira de bagagens, pego a minha (depois de muito esperar na esteira errada). Então, depois de quatorze horas, entro finalmente em solo Neo-Zelandês. Mas eu estava na Ilha Norte e precisava pegar ainda mais um vôo até chegar em Christchurch, onde finalmente meu namorado estaria me esperando para irmos para casa.

Procuro dentro do aeroporto o guichê da Qantas. Chego para a mulher e entrego o ticket eletrônico. Ela olha, olha, sorri para mim e diz algo muito parecido com "mistic". Eu "Céus, o que é que místico tem a ver? Será que eles acreditam nessas coisas por aqui?". Pergunto novamente, ela aponta para uma placa e diz: "You have to go to 'do mistic' airport". Eu "Tá que que 'do mistic' tem a ver com as calças?". Olho para onde ela aponta. "Domestic Flights". Ahhhhhh!!!! Agora tudo faz sentido... Ela manda eu seguir a linha branca no chão, eu ponho a mala num carrinho e vou. E vou. E vou. E vou. E continuo indo. E nada de aeroporto doméstico. E vou. Até que, depois de muito andar no frio de quem acabou de chegar de um país tropical em um outro quase dentro do Círculo Polar Antártico, encontro o tal do aeroporto doméstico.
Despacho a mala, pego minha mochila e subo as escadas. Passo pelo raio-x e... Quê? Querem xeretar minha mochila, de novo??? Bom, pelo menos agora não tem mais nada com que eles possam encrencar e... Quê? Meu chaveiro? Qual o problema com meu chaveiro? Sim, ele tem o formato de um shuriken, mas meu tio trouxe do Japão, não tem problema nenhum e... Ah, sim... Eles acham que eu posso matar alguém com o meu chaveiro. Segurando o riso por imaginar a cena, pergunto o que posso fazer. Ela diz para eu despachar minha mochila. Ótimo, só isso? Pelo menos não vão roubar meu chaveiro... Desço as escadas para despachar a mochila e... Excesso de peso. Rio na cara do tiozinho simpático do guichê, digo que tenho que despachar a mala por causa de um chaveiro. Ele olha para o chaveiro, olha para mim e diz "Dá o papel da mala que você já despachou que eu ponho seu chaveiro lá dentro". Quê??? Jura??? Feliz da vida, entrego o chaveiro e o papel da mala pra ele. Negócio resolvido.
Subo novamente as escadas, passo (novamente) pelo raio-x (não, ninguém encrencou com o meu pacote de absorventes... E olha que eu podia matar alguém com aquilo, hem?) e entro na sala de embarque. Vazia. Sento e fico esperando. Ansiosa demais para dormir. Espero, espero, espero... A sala começa a encher. A sala enche. Levanto da minha cadeirinha para esticar as pernas e quando volto não tenho mais cadeira. Sento no chão. Um casal joga dominó do meu lado. E eu espero. O outro vôo, que deveria sair meia hora depois do meu, sai. Ótimo, pra piorar meu vôo atrasa. A essa hora, o Ju já está esperando em Christchurch. Quase na hora em que eu deveria estar aterrissando, meu vôo sai. Mais uma hora e meia de vôo. Juro que depois dessa, não quero ver avião pelos próximos seis meses.

Chego em Christchurch, pego minha mala e de repente sou atacada por alguém que me abraça por trás. Sim, o Ju. Beijos, beijos, beijos e mais beijos. Vamos para o carro, o Eltoni nos deixa no hotel.
Sim, no hotel. Minha primeira noite na Nova Zelândia será em grande estilo. Suíte deliciosa, cama King Size, banheira. Aproveito tudo, inclusive a comida não-lá-muito-saborosa-mas-tá-valendo. Passeio em Christchurch, passo frio. Delícia.

E para a primeira parte do meu diário de bordo, já escrevi até demais. Sabe como é, às vezes me empolgo.
Volto em breve com a segunda parte.
Aos que leram até o fim, aguardem.

[Re-Hospedando]

Antes de mais nada, não cansei do blogger.com.br, não tive maiores problemas por lá e nada do tipo. Só mudei este blog de servidor para ficar mais fácil de postar, já que não pretendo fazer dele nada além de um Diário de Bordo em terras Kiwis e portanto não quero perder muito tempo configurando templates.

Os dois posts a seguir foram postados já há uns dias no antigo endereço, que já não existe mais.