segunda-feira, 19 de outubro de 2009

[Packing]

Sei que faz tempo, mas passou tanto tempo sem acontecer nada de interessante e depois aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo que nem consegui vir aqui para atualizar as informações.

Primeira informação: Vamos voltar para o Brasil. Esta era, na verdade, uma decisão que foi tomada quando ainda estávamos lá, antes de voltarmos para cá. Razões? Visto que vence em dezembro e fica difícil de renovar, vontade de estudar e aqui escolas são absurdamente caras e, principalmente, o prazo de validade venceu. Nova Zelândia é um país lindo e vale muito a pena conhecer, mas como nós não planejamos viver a vida inteira aqui nem temos contas e mais contas para pagar no Brasil, ficar aqui nunca foi uma decisão a longo prazo.

Segunda informação: Juliano foi demitido do McDonald's. Não por ineficiência ou nada, eles simplesmente descobriram que nosso visto só permite trabalhar 3 meses para o mesmo empregador (e não 10, como o Juliano ficou). Ótimo. Então, eles perguntam ao Ju o que podem fazer para ajudá-lo. Ju diz para me darem o máximo de horas de trabalho possível. O que eles fazem? Me dão 8 horas em uma semana para trabalhar. O que eu faço? Desculpa, mas não sou mendiga para ficar vivendo de favor dos outros, muito obrigada, adeus, até logo mais.

Terceira informação: Jack The Fat Cat está indo com a gente. Ou pelo menos é o que estamos tentando, correndo atrás de tudo o que é necessário porque não temos os 1500 dólares que as agências especializadas em fazer tudo pela gente cobram. É vacina, certificado de saúde endossado pelo Ministério de Biosegurança e pela Embaixada Brasileira, gaiola, tudo. Parece pouco, mas dá uma boa dor de cabeça. Mas por sorte todos até agora foram extremamente solícitos nos lugares em que fomos pedir informação: no tal Ministério e na Embaixada. Ou quase todos, porque os "super" eficientes funcionários de las Aerolíneas Argentinas não sabem de nada e têm raiva de quem sabe.

Ou seja, estamos nos nossos últimos dias em terras kiwis. Ainda não sabemos quanto tempo nos resta, vamos marcar a passagem amanhã, mas por hora já está tudo praticamente pronto. Só colocar na mala e ir. A casa entregamos nesta semana e vamos morar ou com a Dawn, nossa kiwi-mom, ou com a Charmina, nossa amiga filipina que adora brasileiros e tenta arranhar um português. A única "pessoa" que ficou sem destino certo até agora é o Chris Obama, o gato preto sobre quem falei um tempo atrás. Estamos tentando encontrar um novo lar para ele, porque desde que ele chegou eu jurei que não ia me apegar e cumpri a promessa.

E por enquanto é isso. Informações dadas, volto quando tiver mais a falar.

Até.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

[Welcome to Riverland]

Okay, okay, talvez eu tenha demorado um certo longo tempo para resolver finalmente apresentar as "pessoas da fazenda", dando os devidos nomes e feedbacks. Pois bem, como antes tarde do que nunca, agora chegou a hora.

Era uma vez uma fazenda chamada Riverland Dairies, localizada no número 1367, Rakaia Terrace Road. Nesta fazenda havia cinco casas, duas logo na entrada e o resto a três quilômetros de distância. E nesta fazenda havia a maior concentração de brasileiros por metro quadrado que a Nova Zelândia já viu.

A primeira casa logo na entrada foi uma vez, num passado longínquo, onde eu e o Ju moramos. Eu, o Ju e mais seis pessoas, numa casa de três quartos e dois banheiros. Mas estou aqui para falar do presente e não contar como era esta fazenda há um ano. Hoje em dia nesta mesma casa mora o Mark, subgerente da fazenda e kiwi descendente de italianos, que até pouco tempo atrás era casado com a Tony, outra maori gigante, e tem uma filhinha de uns dois anos.

A segunda casa é a casa da mãe, que até o dia 18 do mês passado estava curtindo a vida de recém-casada morando sozinha com o Gordo, também conhecido como Rodrigo. Até o dia 18 de agosto, porque em questão de uma semana esta se tornou a casa com a maior densidade demográfica da fazenda.

Tudo porque o Jairton e a Jana voltaram do Brasil. Jairton é o irmão do Juliano, responsável indireto por eu estar aqui, e Jana é a esposa dele. E os dois trouxeram o Zé Carlos, que era açougueiro em São Pedro e resolveu vir tentar a sorte pros lados de cá.

A parte em que eu comentei sobre ele ser de São Pedro é um bocado importante. Absolutamente todos os brasileiros nesta fazenda, sob a excessão da mãe, são oriundos de duas cidades do interior de São Paulo, separadas entre si por sete quilômetros de estrada: São Pedro e Águas de São Pedro.

Logo depois do Jairton e a Jana voltarem, foi a vez do Taio e da Flávia. O Taio é filho da Dona Sônia, que como a mãe fala é uma das lendas de Águas de São Pedro, que foi professora de geografia de quase todos aqui (inclusive eu). Além disso, o próprio Taio foi meu professor de informática na quinta série, e a Flávia (que é a esposa dele) é professora de matemática.

Não percam a conta, até agora foram sete brasileiros, todos morando na mesma casa de um banheiro só.

Três quilômetros adiante, chegamos na terceira casa, também conhecida como "Casa dos Solteiros". Nela moram o Paulo, mais conhecido como Tico, que é tio da Érica e portanto meu conhecido desde tempos primórdios, e o Gian, outro kiwi que só vi pessoalmente uma vez.

A casa quatro, última com brasileiros, é outra com superpolulação. Tem exatamente a mesma planta da casa da mãe e nela moram o João e a Drika, casados e que estão aqui há quase tanto tempo quanto o Jairton, a Marielle, amiga deles e que tem uma fazenda de leite no Brasil, e os recém-chegados Teta, irmão da Marielle, e Dayane, esposa dele e que todo mundo fala que é a cara da mãe. Estes dois últimos eu ainda não conheci.

A última casa é ocupada pelo não menos importante gerente da fazenda, Brent, a namorada Juliet e os dois pit bulls carniceiros Missy e Chase. Todos kiwis de carteirinha, mas os dois humanos passaram 15 dias no Brasil em julho.

Se minhas contas estão corretas, são quinze brasileiros em uma única fazenda, sem contar todos aqueles que já passaram por aqui. Afinal de contas, brasileiro é praga e cada um traz mais cinco, e a Riverland Dairies é a porta de entrada para todos os aventureiros interessados em conhecer ou em trabalhar na Terra dos Kiwis.

[Uniformemente Acelerado]

Quase três semanas de McDonald's e já posso dizer que tenho uma certa experiência. Até hoje só fiquei nos caixas e não tenho a menor ambição de trocar de posição. Muito mais feliz tentando me comunicar com os clientes japoneses do que queimando o dedo na chapa dos hambúrgueres.

E muita gente anda me pedindo fotos com o uniforme. Bom, deixo aqui minha promessa de que ainda vou tirar uma foto, junto com o aviso de que, como a mãe, o Gordo, o Taio e a Flávia confirmam, eu pareço uma pessoa totalmente diferente com aquela camisa azul e o boné preto, cabelo em coque (ou quase isso) para trás. E não, isto não é no bom sentido.

Sabem no filme A Bela e a Fera, quando a Fera está se arrumando para o baile e o mancebo-cabeleireiro faz cachos e põe lacinhos por todos os lados? A reação da Fera quando se vê no espelho é extremamente parecida com como eu me sinto usando o uniforme: estúpida.

Não que eu esteja reclamando do trabalho, longe de mim. Mas que o uniforme podia, no mínimo, me deixar livre do boné, isso podia.

O trabalho, por si, é... bem, um trabalho. Alguns dias legal, outros dias nem tanto, alguns dias um sucesso e em outros um desastre. Adoro alguns colegas de trabalho, como a Allison, que vem lá da terra do Robin Hood e tem um sotaque extremamente engraçado, tanto quanto afogaria outros numa privada com o maior prazer, como o James, que é da ilha norte e uma criatura bizarra que acha que é gerente mas tem a mesma posição que eu.

O grande problema agora é convencer os gerentes a me darem mais horários de trabalho. Semana passada tinha três dias, mas trabalhei quatro porque o Ju foi para Christchurch com o Jairton e eu fui no lugar dele. Já nesta semana só me deram trabalho no sábado e no domingo. Aceito sugestões quanto ao que fazer com os outros cinco dias.

E hoje consegui internet porque o pessoal da fazenda (anotação mental de dedicar meu próximo post às devidas apresentações sobre o "pessoal da fazenda") conseguiu convencer o Ju a virar professor de inglês três vezes por semana e hoje foi a primeira aula. Só quero ver até quando isto vai durar, e que fique bem claro que não estou jogando mandinga porque afinal de contas é um dinheirinho a mais e muito bem vindo toda semana. E também significa que terei internet com maior freqüência, o que é mais do que bem vindo. Torço para que estas aulas vinguem.

De resto, até poderia estender meu post por muitos mais parágrafos porque estou inspirada, mas além de não acrescentar muita coisa útil eu ainda estaria bagunçando aqui. Então deixo outros assuntos para o próximo post.

Até a próxima!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

[Miss McDonald's]

Agora sim, informação oficial: vou trabalhar no McDonald's. Assinei contrato e tudo, começo amanhã. A partir de hoje moram três McDonald's employees na mesma casa.

Recebi camiseta maior que o meu tamanho, calça duas vezes maior do que eu e um boné meio torto. E ainda tenho que correr atrás de um sapato preto para poder trabalhar (nada que a Santa Warehouse - a loja de departamentos com promoções malucas - não resolva).

E mais brasileiros aportanto na Terra dos Kiwis. Além do meu cunhado e a esposa que voltaram do Brasil trazendo um agregado, o Ju está neste momento em Christchurch, buscando mais dois casais que acabaram de chegar. Todos de Águas de São Pedro. Sim, eu também me pergunto quantos dos 1500 habitantes da cidade ainda restam por lá.

E, como dito acima, meu cunhado e a esposa voltaram do Brasil, o que significa que voltamos a ter "apenas" dois gatos em casa. A pobre Meg, depois de três meses de liberdade, indo e vindo de onde e para onde queria, a qualquer hora do dia ou da noite, agora terá que se readaptar à antiga rotina de ficar presa dentro de casa o dia inteiro, sob o risco de virar sobremesa de pit bull. E eu ainda sou capaz de apostar que ela está prenha.

Jack Geraldo e Chris Obama, por outro lado, passam bem. Jack está crescendo e começando a brigar com os gatos da vizinhança, o que nos obrigou a gastar outro dia com veterinário, quando ele apareceu com um buraco enorme cheio de pus. NZ$ 40,00 pela consulta, NZ$20,00 pela injeção de antibiótico e mais NZ$ 10,00 por uma caixa de papelão para transportar gatos, uma vez que meu pirilampo Geraldo se recusava a permanecer no meu colo.

Então amanhã é meu primeiro dia no novo trabalho. Me desejem sorte e que eu não me queime na chapa. Até a próxima vez em que eu tenha internet.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

[O Aniversário Mais Longo da Terra]

Uma das partes mais interessantes de estar a quinze horas na frente de quem está no Brasil é que temos o aniversário mais longo da Terra (ou quase): 39 horas de aniversário.

E ontem (e hoje) minhas 39 horas chegaram. Vinte e um anos, o que para os Kiwis é o aniversário mais importante, porque teoricamente é quando atingimos a maioridade. Pra mim, morando desde os 17 longe dos meus pais, nenhuma diferença.

E tive uma comemoração e ganhei presentes, o que só por isso já fez deste ano melhor que o passado.
A mãe (notou a letra minúscula?) fez um bolo que parecia de padaria (um pouco torto, mas quem liga?) e eu e o Ju viemos de Ashburton até a fazenda para comemorar. Com direito a Sandro, Helen e Lara (mais um casal de brasileiros em terras kiwis e a filhinha super fofa deles) e a luz acabando no meio da festa. E ganhei um ursinho de pelúcia com suéter de "I love NZ" da Lara e uma carteira linda da mãe. Do Ju não ganhei nada, mas perdôo porque graças à viagem ao Brasil estamos sem um puto furado no bolso.

E por falar em puto furado, estou meio que empregada. Eu falo que as coisas aqui são fáceis, não é brincadeira.
Depois de rodar Ashburton inteira, deixando currículos e preenchendo formulários em todas as lojas possíveis, finalmente alguém me ligou. Adivinhem onde? Sim. McDonald's.
Foram três minutos de entrevista para a gerente marcar três horas de experiência para mim amanhã. Ou seja, vou trabalhar três horas para ver se gosto do trabalho e se eles acham que eu levo jeito para isso e ganhar um vale de NZ$10,00 para comer lá.

Não é exatamente o que eu estava esperando, mas como há aquele problema já comentado sobre a ausência de putos furados no bolso, se tudo der certo eu visto o uniforme azul feio e o bonezinho preto e mãos à obra. Torcendo escondida para que algum outro lugar veja meu currículo e diga "Oh, puxa! Esta pessoa parece legal, vamos contratá-la!" e eu possa mudar de emprego.

Não tenho problemas pessoais com o McDonald's, na verdade. E talvez assim que eu começar a trabalhar lá, veja que na verdade é muito legal e queira ficar. Meu problema na realidade é trabalhar no mesmo lugar em que o Ju trabalha desde o fim do ano passado. Pode ser besteira minha, mas pelo menos por enquanto prefiro outro lugar.

De resto tudo continua na mesma. Nossa flatmate gigante continua sem tomar banho (ah, sim, acho que esqueci deste detalhe no último post), continuo com três gatos em casa (porque além do Jack e do Chris, ainda estamos hospedando a Meg, irmã-prima do Jack, enquanto meu cunhado está no Brasil) e minha casa continua gelada feito o Mt. Hutt, que por sinal está coberto de neve até quase o pé.

Então vou aproveitar minha última hora e vinte minutos de aniversário e volto quando puder.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

[Quem é vivo sempre aparece]

Para todo desaparecimento há uma explicação. Não seria diferente aqui.

Passei os últimos três meses em terras tupiniquins. E sem tempo ou sem computador ou sem vontade de postar algum tipo de notícia pelo meu Diário de Bordo, nem mesmo para dar um "Olá, não morri, estou no Brasil" ou algo do tipo.

Mas voltei, finalmente. Depois das atribulações da viagem, de mais 16 horas de vôo pelas Aerolíneas Argentinas, de mais 12 horas esperando em aeroportos até finalmente chegarmos na nossa casa nova.

Sim. "Chegarmos". Plural.
Por motivos que são mais resumidamente explicados com o fato de que dentistas no Brasil são estupidamente mais baratos e mais eficientes do que na Nova Zelândia (fato já explorado neste blog), Juliano resolveu de uma hora para a outra embarcar rumo a São Paulo para finalmente terminar o canal no tal dente que volta-e-meia dava problema. Passou três semanas lá, ao fim do qual voamos juntos para casa.

E estamos em uma casa nova. Não mais a pequenina, meiga, clara e moderna casa ao estilo japonês de Methven, mas sim uma grande, antiga, fria porém charmosa casa ao estilo Kiwi em Ashburton. E agora temos uma roommate gigante, como disse a mãe (letra minúscula porque ela disse que mais uma vez usando letra maiúscula e ela começaria a usar um manto de Nossa Senhora - ou algo do tipo, não lembro direito qual foi a ameaça). É a Hine (lê-se "rine", como em "rinite" ou similar), uma kiwi-maori tão simpática quanto grande (e acreditem quando a mãe diz que ela é enorme) importada de Auckland e a primeira pessoa que eu conheço ao vivo e em cores que fala Māori, a língua dos nativos neo-zelandeses.

Sim, porque os nativos neo-zelandeses têm uma língua própria que até hoje é falada entre eles. Inclusive existem programas de TV e até um canal especialmente voltado para eles, onde passam desenhos tipo Ben 10 dublados em maori. Divertido (okay... "engraçado" seria a palavra mais exata...).

E quanto a mim, ainda procuro o que fazer. Viemos passar os dias de folga do Ju na casa da mãe, onde tem internet (ah, sim... Juliano fez o favor de derrubar champanhe no nosso notebook, então estamos sem internet por tempo indeterminado) e eu aproveitei para imprimir meu currículo. Vou tentar alguma coisa nos supermercados, locadoras e livraria (singular porque só tem uma). Em último caso, tento no McDonald's. Me desejem sorte!

Por enquanto é o que tenho a contar. Sobre as férias no Brasil não tenho muito a dizer, e mesmo se tivesse já passou da data de validade. Assim que eu tiver novidade e uma internet, volto para manter este blog informado.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

[Último Dia do Primeiro Trabalho]

Hoje foi o meu último dia de trabalho no Lodge. Uma noite de segunda, bastante tranqüila e pela qual recebi 50% a mais porque é feriado.
Sim, aqui tem mais esta vantagem: em feriados nacionais o pagamento é "time and a half", ou 50% maior.

Vou sentir saudades da Jo e do Butch. Apesar de muitas vezes eu ter sentido vontade de enforcá-la (só a ela, o Butch sempre foi extremamente legal comigo), os dois foram os melhores primeiros patrões que eu poderia ter tido. Muito pacientes desde o meu primeiro dia, sempre me explicando tudo e me ajudando a aprender. Preciso lembrar de mandar cartão-postal do Brasil e de trazer uma lembrancinha para eles.

E as últimas pessoas que eu atendi sob o cargo de garçonete do Mt. Hutt Lodge foram um casal de escoceses que está hospedado lá. Conversei durante muito tempo com eles (a ponto de eu ter que prometer aos patrões - que são tão pão-duros quanto qualquer outro patrão - que iria descontar 10 minutos do meu pagamento). Os dois são muito simpáticos, trabalham com estudantes internacionais e ficaram bastante interessados em mim, me enchendo de perguntas sobre a minha relação com a língua inglesa, se eu consigo perceber sotaques e coisas do tipo. E, como todo bom britânico, eram absurdamente educados e me passaram nome, endereço e telefone para que eu os visite quando for para a Escócia (que, bom, é um dos primeiros países na lista dos que eu quero conhecer - preciso descobrir o Monstro do Lago Ness).

Terminando a noite como qualquer outra, lavei todos os pratos (o que significa os dois do casal e os dois dos patrões), arrumei a cozinha e vim embora. Volto lá na quarta para buscar o pagamento da semana e entregar os horríveis uniformes amarelos.

E, ainda extra-oficial, viajo na segunda que vem. Só preciso marcar a passagem.

domingo, 5 de abril de 2009

[Os Últimos Dias]

Mudamos, afinal. Não para a casa que tínhamos visto, mas para a casa do meu cunhado, na fazenda. Sim, voltamos para a fazenda. Mas temporariamente, já que devo ir para o Brasil daqui a uns dez dias. Assim que eu for, Ju vai pegar as malinhas e mudar para Ashburton.

Os últimos dias foram difíceis. Os mais difíceis dos vinte anos da minha existência. Nunca antes havia estado tão triste. Minha avó morreu na segunda-feira, sem aviso nenhum. Ainda estou juntando meus cacos espalhados pelo chão.

Mas a dez dias de embarcar, não quero me alongar neste assunto. Já chorei demais e sei que ainda vou chorar mais quando chegar no Brasil, portanto agora vou me focar nos assuntos daqui.

Meu último dia no Lodge deve ser dia 13, segunda-feira que vem. Jo e Butch, os patrões, nunca estiveram tão bonzinhos. Eles gostam muito de mim, e eu tenho muito a agradecer a eles. Quando comecei não sabia fazer nada, e agora sou quase expert na cozinha.

E hoje a casa recebeu um novo hóspede! Hoje à tarde Ju chegou do trabalho e veio me dar oi. Demorei um tempo para perceber que o gato no colo dele era escuro e pequeno demais para ser o Jack.
Ju, que não gosta de gatos, voltava do trabalho quando atravessou a ponte do Rakaia. No meio da ponte, um gatinho atropelado. Tristezas à parte, Ju olha com mais atenção e bem ao lado, outro gatinho. Vivo. Miando. Desesperado, e certamente condenado à mesma sina do primeiro.
Sem hesitar, Ju parou o carro e enfiou o gato dentro. É um menino, e demoramos um tempo para assim percebermos porque as bolinhas dele são tão pequenas que confundimos com uma menina. Deve ter um pouco menos que a mesma idade do Jack e da Meg, mas é bem menor e mais magrinho porque não foi bem alimentado.
Jack, um verdadeiro gentleman, já deu as boas vindas e fez amizade com o novo hóspede. Meg, eternamente bicho-do-mato, não quer nem saber e está morrendo de ciúmes, afinal ela é a melhor amiga do Jack.
Ainda não sabemos o que fazer com o pequeno. Talvez meu cunhado fique com ele, talvez eu fique, ou talvez coloquemos anúncios nos supermercados à procura de um novo lar.
Só sei que ele é uma gracinha, preto com reflexos cinzas, olhos verdes, e bem amigável. E fez xixi dentro do Alfredo, acho que nunca mais sai o cheiro.

E assim se passam os meus últimos dias na Terra dos Kiwis (calma, calma, eu volto em dois meses).

quarta-feira, 25 de março de 2009

[Cheiro de Mudanças]

As mudanças sempre acontecem, de uma forma ou de outra. E a verdade é que gosto muito delas.

O dia começou mais cedo do que de costume, e o sol brilhando no céu impecavelmente azul ajudou a acentuar aquela sensaçãozinha de que seria um dia importante.
Ju estava em casa pelo terceiro dia seguido; semana ruim no McDonald's.
Levantamos e, sem pensar muito, pegamos o carro e nos mandamos para Ashburton.

Por causa de toda a saga do dentista, acabamos gastando mais dinheiro do que esperávamos. Isso nos levou a tomar uma decisão drástica: vamos nos mudar.
Tá bom, tá bom... De Methven para Ashburton nem tem tanta diferença, são apenas 34 km. Mas desde que a Nádia saiu daqui (uma gaúcha que alugou o quarto sobressalente de casa por um tempo) tem ficado cada vez mais apertado para pagarmos os 230 dólares semanais do aluguel, mais as contas de luz, telefone e internet e ainda a gasolina que o Ju usa todos os dias para ir trabalhar no McDonald's (que fica em Ashburton).

Vimos uma casa no TradeMe (o Mercado Livre daqui), ligamos para a dona e fomos ver.
A casa é bonita, nova, arrumada e ela aceita gatos. O aluguel em si é um pouco mais alto, 130 por pessoa. Mas este preço já inclui as contas de luz, telefone e internet (e a gasolina o Ju já não vai mais gastar porque pode ir trabalhar de bicicleta).
Ainda não temos certeza de nada, ficamos (nós e a dona da casa) de pensar. Mas fato é que vamos nos mudar para Ashburton mais cedo ou mais tarde. E eu pedi demissão do Lodge.

Sim, eu gosto de trabalhar do Lodge, mas se continuar trabalhando lá morando em Ashburton vou gastar a mesma gasolina que o Ju hoje em dia. E, de qualquer maneira, minha viagem para o Brasil vai ser daqui a mais ou menos um mês.

Mas foi enquanto estávamos em Ashburton que o Alfredo resolveu ficar rebelde. Paramos no New World (supermercado) para comprar créditos para o celular e quando voltamos, ele simplesmente resolveu não ligar. Problemas na bateria. Complicado é que compramos uma bateria novinha em folha para ele há cerca de um mês.
Por sorte (ou não), já estávamos preparados e tínhamos um starter (aparelho para dar a carga inicial na bateria) comprado semana passada.
Só que a partir daí, o Alfredo simplesmente parou de querer ligar. Só liga com o starter, e ainda assim sob muita reza brava.

Resultado: tive que ir trabalhar no Lodge usando o carro da Mãe e do Pai (e ela provavelmente só vai saber quando entrar aqui), que eles deixaram com a gente enquanto estão no Brasil para o caso de emergências como esta. Amanhã Ju vai trabalhar com ele também (que chama Fugly, porque é o carro mais feio peculiar que já vimos), enquanto eu levo o Alfredo ao médico. E lá se vão mais alguns dólares pela saúde do Alfredo.

Ainda enquanto estávamos em Ashburton, na vã tentativa de fazer a bateria recarregar, fomos rodando em busca da lendária praia. Até conseguimos ver um pedacinho do azulzíssimo Pacífico depois de uns 20km no meio do nada, mas não encontramos a estrada que nos levasse até lá. Mas valeu pelo passeio e por encontrar uma vila abandonada com a maior pinta de filme de terror no caminho.

E quanto às mudanças... Já diz a minha mãe: Vamos atravessar a ponte quando chegarmos lá.

segunda-feira, 23 de março de 2009

[Levando Sabedoria aos Ignorantes de Boa Vontade]

Um comentário da Luísa Saavik lá na comunidade Hilson do Orkut (uma comunidade sobre House da qual faço parte - a melhor comunidade do Orkut) me inspirou a criar este post.
Ela, que junto comigo faz parte das correspondentes internacionais da Hilson, fala diretamente de Londres, e postou o seguinte comentário:

"Cinco europeus a menos pensando que a capital do Brasil é o Rio. Fiz minha boa ação do dia."

Parei para pensar e percebi que nunca mencionei aqui as situações inusitadas, engraçadas e levemente preocupantes pelas quais eu e os demais tupiniquins habitantes das terras Kiwis já passamos.

A verdade é que - e pelo menos isso me aliviou um bocado - o Brasil é um país bastante conhecido (pelo menos aqui no meio Kiwi). Poucas foram as pessoas (na verdade, apenas uma me ocorre no momento) que ficaram com cara de interrogação quando algum de nós disse ser do Brasil.
A maioria esmagadora sabe que é o maior país da América do Sul, e que fica lá em algum canto perto da Argentina e do Chile (alguns ainda lembram da Venezuela e do Chávez, mas estes são bastante raros).

E, é claro, após revelarmos nosso país de origem, começamos uma contagem de quanto tempo demora até sermos interrogados quanto ao futebol, carnaval, praia e mulheres bonitas. A maioria leva no máximo 3 perguntas para chegar até lá (as primeiras costumam ser "De qual cidade você é?", seguido pela "Quantos habitantes tem em São Paulo?" e a expressão de espanto ao ouvir a resposta).

O momento mais fofo pelo qual já passei foi quando, no Ano Novo, o professor aposentado de Comunicação que mora lá no Lodge e morou quatro anos no Brasil (e que, a propósito, chama John e é inglês), enquanto fazia uma caipirinha com uma 51 em latinha que o Ju trouxe, começou a cantar "Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água, não. Cachaça vem do alambique. E água vem do ribeirão".

E não vou ser injusta com os Kiwis, os ingleses ou os australianos (espécies com as quais tenho maior contato devido ao Lodge). No geral, eles são bem menos ignorantes quanto ao Brasil do que a maioria dos brasileiros é quanto à Nova Zelândia.
Mas fato é que sempre se pode esperar perguntas e comentários dignos de serem motivo de piada entre nós.

Na categoria de comentários, houve uma vez quatro empresários que jantaram no Lodge há algum tempo. Ao servi-los, surgiu a pergunta sobre a minha origem, à qual eu sempre respondo com certo orgulho (e paciência para responder às perguntas conseguintes).
Um dos empresários, então, me diz que sua filha está estudando no Chile e estava guardando dinheiro para ir ao Carnaval do Brasil. Outro diz que esteve no Brasil durante um carnaval. O primeiro diz: "Não sabia muito bem o que era este tal de Carnaval, então fui procurar na Internet. Quando vi, falei para a minha filha 'Não! Este Carnaval não é lugar para você!". O segundo empresário emenda, dizendo que gostou muito do Carnaval, que ficou encantado e tal... O primeiro pergunta "Você deixaria sua filha ir para este Carnaval?". Ele responde "A minha filha não, mas os meus três filhos eu mandaria na hora!".

Comentários campeões de Ibope também são os clássicos "Eu adoro o Pelé!" e "Como vai o Ronaldo?". O vendedor de donuts de Christchurch sempre faz questão de recitar com o maior orgulho todos os anos em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo.
Sobre estes assuntos eles costumam saber ainda mais do que eu.

Mas aí entra o momento em que dá vontade de rir na cara da pessoa e sair chorando em seguida. São aqueles comentários, aquelas perguntas que fariam qualquer professor de geografia se enforcar em um pé de couve na primeira oportunidade.

Para começar, sempre tem um espertinho que, ao ouvir que eu sou do Brasil, solta "Ah! A prima da tia do cunhado do meu irmão fala espanhol!". Hum... Que bom pra ela, camarada, porque eu só falo português e inglês, mesmo...

Depois tem aquela velha conhecida, a qual todo brasileiro em terras gringas deve estar preparado para responder com um sorriso, como se não fosse nada de mais. "A capital do Brasil é o Rio de Janeiro, né?". Não, meu amigo, e também não é Buenos Aires.

Passando pelas comuns, entramos na lista das mais exóticas. "Ah, eu conheci um cara que era do Chile. O Chile faz parte do Brasil, né?". Sim, trocamos pelo Acre uns dois anos atrás...

Mas a pior, a que dou Graças por não ter presenciado, aconteceu com o Ju atendendo uma cliente do McDonald's. Ela notou o sotaque, perguntou de onde ele era. "Brasil", ele disse. Ela, sorridente, "Ah, que legal! O Brasil fica perto da França, né?". Sim, quando vim para cá o avião precisou fazer um desvio porque estava em rota de colisão com a Torre Eiffel.

Ser brasileiro em terras gringas não é tarefa fácil. É necessária muita paciência, vontade de espalhar conhecimento e, acima de tudo, muito controle para não cair na gargalhada.



Obs.: E quanto ao Ju e a saga do dentista, tudo terminou bem graças a um (acredite se quiser) argentino. Um tal de Luciano Dantas é dentista aqui e fez o serviço dando aquele "jeitinho latino" para que saísse a um preço bem mais justo.

sábado, 14 de março de 2009

[O Dentista]

Preciso fazer uma lista de prós e contras da Nova Zelândia contra o Brasil.
Para a Nova Zelândia com certeza eu contaria o preço da gasolina, a ausência da crise econômica mundial (que para nós aqui é só lenda urbana oriunda de telefonemas para o Brasil), o preço dos carros, o salário mínimo, a falta de burocracia.
Já na lista do Brasil finalmente eu descobri o que colocar em primeiro lugar: Odontologia.

Não que aqui seja ruim. Na verdade, sei muito pouco. Só sei que desde que cheguei aqui notei a quantidade de kiwis com dentes tortos ou faltando.
Hoje levei o Ju, depois de sofrer mais de uma semana com uma dor de dente terrível (que o primeiro dentista disse ser "hipersensibilidade" e receitou Sensodyne), a um dentista de emergência em Christchurch.

Primeira facada: por ser consulta de emergência, sairia 100 dólares só para sentar na cadeira e abrir a boca para o tio. Tudo bem, com dor de dente é que ele não pode ficar.
Vai lá, senta, o dentista tira dois raios-x. Cada um por 20 dólares.

Conversa vai, conversa vem, o dentista (um indiano branco - o primeiro que vejo por aqui, deve ser da mesma casta de Gandhi) examina os raios-x e comprova o que o Ju e a dentista dele do Brasil já desconfiavam: Problema de canal.

Ótimo, então, vamos fazer o canal e... QUÊ???
Precisei limpar os ouvidos enquanto estava sentada ao lado do aquário (por que todo dentista tem aquário?) dentro da sala. Não pode ser, eu devo mesmo estar ficando louca... Tive a impressão de que ouvi o indiano dizer que o canal vai sair cerca de 2500 dólares.

É... Parece que ele realmente disse isso. E parece também que, mesmo custando uma passagem de ida e volta para o Brasil, ainda não é garantia de que o canal vai ser bem feito e de que não vai precisar ser refeito em um ano ou dois.

Aí, como também já esperávamos, o dentista deu a segunda opção: extração do dente. Junto com a prótese para os outros dentes não entortarem e mais para a frente o Ju poder fazer um implante, ficaria a bagatela de 1500 dólares.

Quis rir, chorar, me descabelar e enforcar aquele indiano. COMO ASSIM???
Um canal bem feito, sem necessidade de ser refeito em um ou dois anos, sairia em torno de uns 300 reais no Brasil. E a extração de um dente, cerca de 50. Tudo bem feito, sem medo de reclamações futuras.

Final da história: Por causa do dia no dentista (além de tudo, pegamos um chá de cadeira de umas 3 horas - li todas as revistas de fofocas da sala de espera), perdemos nossos dias de trabalho, Jo e Butch tiveram que se virar sozinhos em pleno sábado (dia que costuma ser razoavelmente cheio - cerca de 3 mesas com 4 pessoas cada) e nada foi decidido. Ju voltou para casa com uma receita de antibiótico e um opióide por cinco dias, a dor continuou e o dente ainda está lá.

É, parece mesmo que esta história continua...

quarta-feira, 11 de março de 2009

[Quem é Alfredo?]

Depois de seis meses rodando com o carro totalmente fora da lei, escapamento furado e sem velocímetro, chegou a hora (e a grana) de finalmente arrumá-lo.
Claro que a multa que o Ju levou na sexta com prazo de uma semana para arrumar tudo e mostrar para a polícia ou ter que pagar 400 dólares e ainda correr o risco de levar mais multas ajudou deu um empurrão para finalmente deixarmos o Alfredo em ordem.


Alfredo posando para a foto com Érica e Juliano

Alfredo, queridos amigos tupiniquins, é o nosso fiel companheiro desde que cheguei aqui.
Um Mitsubishi Lancer 1990 branquinho super simpático que nos custou 700 dólares e que quase nunca nos deixou na mão.
Ele foi batizado logo nas primeiras horas da Road Trip de setembro, quando já estava sem velocímetro, WoF e Registration.

Aqui nas terras Kiwis a papelada necessária para se ter um carro é bem menos... digamos... burocrática.
Qualquer pessoa pode entrar em uma agência do correio, pegar o devido papel, preenchê-lo com seus dados e os dados do carro e pagar a taxa de NZ$9,90 e pronto: o carro é legalmente seu. Assim mesmo, sem necessidade da presença do antigo dono, sua assinatura ou mesmo seu nome.
Para se ter noção, foi meu cunhado que passou o carro para o meu nome. Nem o dono antigo nem eu e o Ju estávamos presentes no momento.
Ai, se essa moda pega no Brasil...

E para se manter um carro a vida também é um bocado mais fácil do que no Brasil. Além da gasolina ser mais barata (agora anda em torno de NZ$1,65 o litro), as únicas taxas que você precisa pagar são a da Registration, que custa 50 dólares para cada 3 meses, e o WoF (Warrant of Fitness, ou Garantia de Funcionamento).
O WoF é mais barato do que a Registration, 45 dólares a cada 6 meses. Como o próprio nome diz, para tirar o WoF é preciso passar pelas mãos de um mecânico, que vai checar se tudo está funcionando como deveria e só então dar (ou não) a Garantia.

No nosso caso foi o que nos fez enrolar tanto para regularizar a situação. Quando levei a primeira vez para fazer o WoF, o orçamento do mecânico para consertar tudo ficava em 415 dólares. Como nunca tínhamos esta grana, acabamos enrolando, enrolando, enrolando...
Mas sempre chega a hora em que temos que colocar tudo em ordem. Ontem, então, levamos em outro mecânico para consertar o escapamento e ajustar o freio de mão. Hoje, para já resolver tudo de uma vez e colocar um fim no frio na barriga que a gente sempre tinha quando passava um carro da polícia por perto, levamos o Alfredo em Ashburton para trocar o cabo do velocímetro.

O mecânico levou um bom tempo para conseguir desparafusar todo o painel do carro (por que as montadoras não pensam nos pobres mecânicos e nos proprietários, que pagam aos mecânicos por hora de serviço?), cortou a mão e teve que "roubar" o cabo de outro Mitsubishi que estava no ferro-velho, mas finalmente conseguiu arrumar.
De lá seguimos para fazer o WoF, pagamos a Registration e pronto. Problema resolvido. E tudo saiu cerca de 350 dólares. Ou seja, o primeiro mecânico a que eu levei tentou me roubar na cara dura.

O engraçado é que, sem o barulho de escapamento furado, o carro parece outro. Vou demorar para me acostumar a dirigir sem aquela corneta rouca tocando na minha cabeça.
Outra coisa engraçada foi descobrirmos que durante todo este tempo sem velocímetro nós sempre andamos a pelo menos 110km/h quando a velocidade máxima aqui é 100.

Daqui pra frente, quase tudo vai ser diferente...

segunda-feira, 9 de março de 2009

[Mt. Hutt Lodge]

Comento tanto sobre meu trabalho no Lodge, sobre a Jo e o Butch (os patrões), sobre o uniformezinho amarelo ridículo que sou obrigada a usar, mas nunca mostrei fotos deles.

Pois bem, erro corrigido. Eis aqui fotos dos patrões e do casal brasileiro obrigado a usar o uniforme amarelo (cliquem nas fotos para ampliar):

Ela é australiana. Ele é americano filho de austríacos.
Os dois são patrões de brasileiros na Nova Zelândia.


Ju fica até galãzinho com este amarelo. Já eu...

As duas fotos foram tiradas no bar do restaurante (que é muito menor do que parece nas fotos) por um metido a fotógrafo que passou o ano-novo lá e achou que seria muito legal sair exibindo a Nikkon por aí. Pena que não sabia usar... Tive que cortar um monte destas fotos para conseguir um enquadramento um pouco melhorzinho.
Mas pelo menos ele mandou um CD com as fotos especialmente para "os garçons brasileiros cujos nomes ele esqueceu", o que é muito legal para mostrar (ainda que as fotos do Ju sejam MUITO melhores) o local onde trabalhamos na Nova Zelândia para nossos pais, avós, tios e quem mais quiser ver.

domingo, 8 de março de 2009

[O Hedgehog]

Hoje o Jack fez um amigo.

Cheguei do trabalho, depois de servir duas mesas (quatro pessoas). Sim, você leu direito. QUATRO pessoas. Meu trabalho é muito difícil e árduo e cansativo, como podem notar. E ainda assim meus patrões conseguem ficar estressados de vez em quando.

Aí cheguei em casa, com o uniformezinho amarelo dois números maior que o meu que sou obrigada a usar lá. Tenho a impressão de que a Jo (patroa) escolheu essa cor para ninguém ficar mais bonita do que ela (o uniforme dela é rosa-choque).

Estacionei o carro, abri a porta e dei de cara com um Ju todo feliz, me chamando "Vem cá ver, o Jack arranjou um amigo!". Vou para os fundos de casa, me enfio meio que no meio do mato que separa a nossa casa da casa do vizinho (que, por acaso, é nosso senhorio e chama Todd qualquer coisa - em linguagem para todo mundo entender, o dono da nossa casa) e, ajustando os olhos para enxergar no escuro, me deparo com algo muito parecido com isso:


Sim. Um hedgehog. Na linguagem tupiniquim, um porco-espinho.

Diferente dos porcos-espinhos do Brasil, estes não soltam os espinhos na boca do predador. Os espinhos são simplesmente uma carapaça que os protege contra ataques.

Como os do Jack.
Jack Geraldo estava lá, mais feliz do que criança passando aniversário na Disney, correndo, pulando e atacando o pobre bichinho. E o bichinho? Fazia nada, só ficava lá paradão na dele, fuçando as folhas do chão.

Até pensamos em tirar foto, mas o ditocujo estava num local terrivelmente desprovido de luz, o que nos obrigaria a usar flash, o que estressaria ainda mais o coitadinho.

Então fizemos o que qualquer pessoa faria vendo uma criatura tão fofa com essa cara de "me afague". O afagamos.
A sensação é muito parecida, praticamente igual, com a de afagar um cacto. Com a diferença de que ele não tem aqueles espinhos minúsculos que parecem farpas de madeira presas no seu dedo.
Tentamos fazer o simpático hedgehog (sim, eles são super simpáticos e amigáveis. Tem um na casa da Mãe que de vez em quando aparece na janela e fica fuçando o que a gente tá fazendo lá dentro) usar a técnica de defesa dos hedgehogs: virar uma bolinha.
Mas o fato é que o novo amigo do Jack não estava lá muito a fim de satisfazer as nossas vontades (e devia estar querendo matar aquele gato adolescente pulando nas suas costas), então continuou lá, paradão na dele, fuçando as folhas no chão.

Finalmente resolvemos pegar o tal gato adolescente e levá-lo para dentro de casa, para deixar o pobre hedgehog seguir seu caminho.
O Jack ficou feito louco tentando sair através das janelas para ir brincar com o novo amigo, mas depois de algumas tentativas frustradas desistiu e foi mamar orelhas.

A parte triste dos hedgehogs é que eles são em quantidade tão grande nesta época do ano que vivem sendo atropelados nas estradas.
Aqui dificilmente vemos cachorros e gatos atropelados (até porque não existe cachorro de rua), mas as épocas do ano variam entre possuns, hedgehogs e coelhos atropelados, vez ou outra alternando alguns corvos (seriam mesmo corvos aqueles pássaros corintianos?) e pardais.

Mas agora estou torcendo para o novo amigo do Jack ter gostado tanto do nosso quintal que vai trazer a família toda para morar aqui, e assim poderemos ver estas coisinhas fofas (não no sentido literal da palavra) passeando ao redor da casa e fazendo do Jack um gato mais feliz.

quarta-feira, 4 de março de 2009

[Os Testemunhas de Jeová]

Hoje fui visitada por Testemunhas de Jeová. Sim, eles existem até aqui.

Acordei cedo (às 9 e alguma coisa), mas a preguiça e a vontade de finalmente terminar de assistir Ella Enchanted me seguraram na cama até depois do meio-dia. Fiquei lá, deitada, fuçando na internet e sem levantar nem para escovar os dentes.

Aí me batem na porta. Xingando a quarta geração do visitante, espiei para ver quem era. Um homem de terno, gravata e chapéu de cowboy. Só a visão me faria rir por uma semana caso eu já não estivesse acostumada com a falta de senso de ridículo dos Kiwis.

Pensei em fingir que não estava em casa, mas as mesmas portas de vidro que fazem a casa tão linda e bem iluminada também servem como delatores para visitas indesejadas.
"Certo", penso eu, "lá vou". E fui. De pijama cor-de-rosa e um nada agradável bafo da manhã.

"Olá, bom dia! Desculpe ter incomodado seu descanso, mas eu estou aqui para lhe fazer uma pergunta". Juro que até este momento, eu não imaginei do que se tratava. Nem o outro homem de terno, gravata e chapéu de cowboy sentado numa cadeira de rodas na entrada de casa me deu a dica.
"Você lê a Bíblia?". Acho que o barulho da ficha caindo deve ter sido ouvido lá pelas bandas e Ashburton. "Leio, todos os dias". Sabe como é, o médico mandou não contrariar.
"Ah, que ótimo! Pois eu tenho aqui um livro que vai ajudar o seu entendimento do livro sagrado". Ele tira da bolsa um livrinho chamado "What does the Bible really mean?". Céus, por que eu não fingi mesmo que a casa estava vazia?
"De onde você é?" o homem pergunta, ainda não sei se pelo sotaque ou se pelo estranho hábito de levantar da cama ao meio-dia (coisa que não existe por estes lados). Respondo, e ele "Ah, sim... Tem muitos católicos no Brasil, né? Você é católica?".
Céus. E agora? Digo que sou e ele tenta me transformar em seja-lá-qual-religião-ele-esteja-pregando ou digo que não sou e ele tenta me transformar em seja-lá-qual-religião-ele-esteja-pregando?
Digo que sou. Mais fácil isso do que ter que inventar outra religião, porque dizer que sou sem-religião para estas pessoas é o mesmo que dizer que sou satanista e não estou a fim de sermão a esta hora do dia.

"Você se incomodaria em ficar com este livro? Não precisa ler inteiro, nem virar Testemunha de Jeová por isso" Ah, são Testemunhas de Jeová... ", mas é uma boa leitura para quem está de mente aberta" Calma... Calma, Tati... Você anda sonhando acordada... Parece até que acabou de ouvir um Testemunha de Jeová dizendo que você tem que ter a mente aberta...

Certo. Melhor aceitar logo o livro, sorrir simpaticamente (afinal, o cara foi simpático e gentil, não há motivos para destruir o dia dele), desejar um bom dia e deixar ele ir.
Ah, mas claro... Preciso marcar uma hora para devolver o tal livrinho. Semana que vem, mesmo bat-dia, mesmo bat-horário? Certo, então. Escrevo meu nome (porque se "Tatiana" é impronunciável para eles, pior ainda fica para escrever) no caderninho para que ele possa me encontrar, dou finalmente bom dia e tchau.

Entro, fecho a porta e deixo o livrinho sobre a mesa.

Pelo menos agora tenho uma semana para pensar na desculpa que vou dar da próxima vez...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

[And the Oscar goes to...]

Pois bem, ontem finalmente foi o Oscar. Como esta que aqui vos escreve tem a tradição de acompanhar religiosamente a entrega de prêmios pela TV todos os anos, desta vez não poderia ser diferente. O único problema foi conseguir encontrar uma casa que tivesse o único canal (da Sky) que transmitisse a entrega.
Mas lá fui eu, pequena fissurada, acordar às 6 da manhã, levar o Ju para o McDonald's em Ashburton e depois seguir para a fazenda, onde eu e a mãe ficaríamos de plantão vendo a entrada das celebridades pelo tapete vermelho.

No fim a entrega propriamente dita demorou séculos para começar e, só depois que eu voltei com o Ju do McDonald's, fomos descobrir que o único canal da Sky que ia passar a entrega não pegava na casa da mãe.
O jeito? Invadir a casa do vizinho, acordar a única moradora presente, alojar-se no sofá e ficar lá, torcendo e fazendo dancinha Bollywood toda vez que Slumdog Millionaire ganhava um Oscar.
Apesar de termos perdido os primeiros prêmios, chegamos exatamente na hora em que iam anunciar o vencedor de Melhor Ator Coadjuvante (em que eu, nada secretamente, torcia por Heath Ledger).

Eu bem que gostaria de comentar todos os vencedores, mas visto que não assisti a maior parte dos filmes (melhor dizendo, só assisti Dark Knight e Slumdog Millionaire), não acho justo.
Mas vou comentar alguns, de qualquer forma.

- Melhor Atriz Coadjuvante: Penélope Cruz
Já faz algum tempo (desde que descobri a existência de uma atriz chamada Penélope Cruz) que eu não gosto da Penélope e não a considero uma atriz talentosa. Sem contar que é sem graça nenhuma, tem um sotaque horrível e fala entre os dentes. Em outras palavras, teria ficado muito mais feliz com o Oscar para Marisa Tomei.

- Melhor Ator Coadjuvante: Heath Ledger
Alguns podem dizer que seria melhor ter dado o Oscar a outro ator, afinal de contas o Heath já morreu, mesmo, e já levou todos os prêmios este ano, não precisaria de um Oscar. Mas a minha torcida por ele foi enorme, quase tão grande quanto nos anos em que o Johnny Depp concorre, e fiquei absurdamente feliz por este Oscar. Heath Ledger deu uma cara totalmente nova para o Coringa, e o fez com uma maestria que fez este personagem ser "o" personagem, aquele pelo qual Heath Ledger vai ser lembrado daqui a muitos e muitos anos. Totalmente merecido e quase chorei junto com todo mundo no Teatro Kodak.

- Melhor Canção Original: "Jai ho", Slumdog Millionaire
Para quem gosta ou para quem não gosta de música oriental, a trilha sonora de Slumdog Millionaire é a melhor, não tem jeito. Tanto é que, das três músicas concorrendo a esta categoria, duas eram do mesmo filme. Merecido, sim, e fiz a dancinha Bollywood com muito gosto neste Oscar.

- Melhor Ator: Sean Penn
Eu sempre disse que um dos poucos atores que poderiam ganhar o Oscar do Johnny Depp sem me deixar com a vontade que tenho de matar o Daniel Day Lewis era o Sean Penn. Ele é bom, sempre foi, sempre vibrei com ele na tela e achei este Oscar bastante merecido (e bastante previsível, também, já que a Academia adora premiar atores vivendo personagens reais).

- Melhor Atriz: Kate Winslet
Esta sim foi uma categoria disputada. Kate Winslet, Meryl Streep, Anne Hathaway e Angelina Jolie (e a tal da Melissa Leo, de quem nunca eu tinha ouvido falar), todas muitíssimo bem em seus respectivos papéis (o que, no caso da Meryl Streep, não é nenhuma surpresa... a mulher fica bem até quando canta, dança, sapateia e toca viola em Mama Mia!). A Kate mereceu, mas não mais do que qualquer outra na categoria teria merecido. Mas fiquei feliz de qualquer forma.

- Melhor Direção e Melhor Filme: Danny Boyle, Slumdog Millionaire
A Academia resolveu voltar a premiar o mesmo filme nestas duas categorias. Achei bom, uma vez que é um tanto contraditório de outra forma. E tanto o Danny Boyle quando Slumdog Millionaire mereceram muito este Oscar. Danny entra para a família dos grandes diretores de Hollywood e Slumdog Millionaire coloca a Índia em destaque no mundo (com ajuda da tal novela que está passando no Brasil). Como já disse, este é um filme que recomendo a todo mundo, porque é definitivamente muito bom.


Fato foi que pela primeira vez em muitos anos eu fiquei quase totalmente satisfeita com a premiação (o "quase" se devendo à Penélope Cruz). Meus preferidos ganharam, fiz a dancinha Bollywood cinco vezes (perdemos os 3 primeiros Oscars) e Heath Ledger é definitivamente o melhor ator deste ano.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

[Shopping, pizza, cinema e balas de caramelo]

Dia de folga ontem, finalmente. E, finalmente, dia de folga junto com a Mãe e o Pai (MaFê e Rodrigão). Malinhas prontas, gasolina no carro, vam'bora pra Christchurch!

Os planos que fizemos pela semana era de ter um dia de turista, andar de bonde, teleférico (também conhecido como "bondinho" ou "gôndola), tirar fotos. Até blusa florida e chinelo de dedo estávamos separando para ir a caráter. Mas São Pedro resolveu que não estava e bom humor e que como ele nunca tem um dia de folga para ir passear, mandou chuva no nosso.

Mas o que São Pedro não sabia é que nós somos brasileiros. E brasileiro, como todo mundo sabe e aquela propaganda chata do governo faz questão de lembrar, não desiste nunca. Sem cão, caçamos com gato. Ou, melhor dizendo, sem dia de turista, resolvemos viver um dia de bons paulistanos que (quase) somos.

Começando pelo shopping. Um novo, que eu e o Ju ainda não conhecíamos. Pequeno, com as mesmas lojas e falta de opções de comida. Mas ainda assim, algo novo. E com uma Second Hand do lado.
Second Hand, para quem não sabe, são as lojas de produtos usados (ou de "segunda mão", como o nome diz). Um lugar excelente para se comprar coisas em bom estado por um preço bem mais (ou nem tanto) acessível do que um novo. E a Second Hand do shopping Northlands estava com uma promoção imperdível de DVDs por 3 dólares cada. Imaginem se eu não fiz a festa, né?
Comprei quatro: De Volta para o Futuro II, Drácula de Bram Stoker, Piratas do Caribe - O Baú da Morte (edição especial com dois DVDs - há umas duas semanas eu comprei a mesma edição do O Fim do Mundo na Warehouse por 9,90) e A Noiva do Monstro, clássico do Ed Wood, o pior diretor do mundo, estrelando Martin Landau Bela Lugosi.

Depois de muitas horas no shopping Northlands, cansamos e decidimos mudar de ares: fomos para o shopping Westfield. Um pouco (tá... bastante) maior do que o primeiro, mas com praticamente as mesmas lojas e falta de opções de comida. Mas, como era uma terça-feira e já passava da hora do jantar (leia-se "6 da tarde" no idioma Kiwi), as lojas estavam todas fechadas e só o cinema estava funcionando.

Após uma breve discussão sobre qual filme assistiríamos (Mãe queria Bride Wars, Pai queria Gran Torino, Ju não queria nenhum dos dois e eu queria qualquer um), resolvemos ver Slumdog Millionaire ("Quem Quer Ser um Milionário" em português, indicado ao Oscar de melhor filme e direção - do Danny Boyle). Compramos o ticket e, como ainda faltava mais de uma hora, resolvemos atravessar a rua e procurar um restaurante.

Acabamos topando com uma pizzaria. Com pizza. E mozzarella. E calabresa, e borda de catupiry, e... Okay, aí já seria pedir demais.
Mas era uma pizzaria com pizzas feitas com mussarela. Só isso foi motivo para todos batermos a cabeça na parede e nos perguntarmos "por que diabos nunca viemos aqui antes???".
A pizza era mediana para os padrões paulistanos dos nossos paladares. Mas, para os padrões kiwis de comida e, principalmente, de pizza, era divina. Devoramos duas pizzas grandes em quinze minutos. E depois voltamos correndo para o cinema para comprar o copão gigante de Coca-Cola antes do filme começar.

O filme merece um capítulo à parte, por isso não vou comentar muito dele. É muito bom, com certeza um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. Recomendo fortemente e estou na torcida pelo Oscar (embora eu saiba que, pela própria temática, não leva o de Melhor Filme).

Mas a melhor parte do dia eu deixei para o final: Ainda lá no Northlands, o primeiro shopping, demos de cara com uma loja de balas de caramelo. Balas e pirulitos lindos, coloridos, desenhados, decorados... Dava até para mandar colocar seu nome dentro da bala, o que deixou a Mãe e o Pai (que estão de casamento marcado para abril) bastante interessados.
No fim ficaria muito caro e tal, mas enquanto conversávamos com o cara da loja, chegou a hora dele e da menina que trabalha com ele fazerem mais balas. E lá foram os dois para a cozinha.
Por cozinha, deixe-me explicar, eu me refiro a dois balcões compridos em forma de "L", com vidros em volta dando de cara para o shopping. É isso mesmo, eles fazem as balas na frente de todo mundo, e só isso é um atrativo à parte.

Logicamente, lá se foram os quatro brasileiros se amontoar ao redor da vitrine, ao lado de vários outros kiwis, para observar a curiosa arte de confecção de balas de caramelo.
E esquenta de lá, e enrola de cá, e puxa ali, e corta aqui e voilà, temos uma bala de caramelo fresquinha para experimentar. Ainda quentinha, com a mesma sensação de pãozinho quente na padaria.

Após o dia divertido e a experiência inédita de comer bala de caramelo fresquinha, pegamos o caminho da roça (literalmente, porque o Ju e eu tínhamos deixado o carro na fazenda) e voltamos para casa.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

[Meu nome é Tash!]

Nós, os brasileiros em terras kiwis, costumamos ter um grave problema quando chegamos aqui: conseguir fazer com que pronunciem nossos nomes.
Como esta é uma tarefa praticamente impossível, cabe a nós, pobres brasileiros, arranjarmos apelidos para que eles não nos chamem de "Hey, you!" ou "brazilian guy".

E foi assim que o Juliano virou Julian, a Maria Fernanda virou Mary, a Janaína virou Jany, a Drika virou Adriana (pronunciado "Eidriena"), o Jairton (esse seria impossível) virou simplesmente Junior, o Rodrigo virou... Bom, esse continuou sendo Rodrigo, mas com os "erres" enrolados.

Mas o meu nome continuava sendo um problema. "Tatiana" eles até conseguem pronunciar, mas com dificuldade e sem o som de "ã" no "ana". Sem contar que, sem um apelido, ninguém conseguia decorar o nome que já não conseguiam mesmo pronunciar.
Até eu começar a trabalhar no Lodge.

Logo no primeiro dia, meus patrões se interessaram em saber como eu pronunciava o meu nome. Com muito esforço, eles conseguiam soltar um "Tatchiána". Butch, meu patrão, resolveu então me perguntar como meus amigos me chamavam. "Tati", eu disse, da forma como eu, você e qualquer outro brasileiro pronunciamos.
Tentando imitar o som, Butch me pergunta "Tash?". Tentei corrigir, pronunciando mais algumas vezes, mas não teve jeito.
E foi assim que eu me tornei Tash (às vezes pronunciado "Tásh", às vezes "Tésh"). No começo foi estranho, eu queria rir a cada vez que ouvia a tal da "Tash" sendo chamada na cozinha. Mas acabei me acostumando e, sabem de uma coisa?, passei a gostar.

Portanto, agora eu me chamo Tash!