quarta-feira, 25 de março de 2009

[Cheiro de Mudanças]

As mudanças sempre acontecem, de uma forma ou de outra. E a verdade é que gosto muito delas.

O dia começou mais cedo do que de costume, e o sol brilhando no céu impecavelmente azul ajudou a acentuar aquela sensaçãozinha de que seria um dia importante.
Ju estava em casa pelo terceiro dia seguido; semana ruim no McDonald's.
Levantamos e, sem pensar muito, pegamos o carro e nos mandamos para Ashburton.

Por causa de toda a saga do dentista, acabamos gastando mais dinheiro do que esperávamos. Isso nos levou a tomar uma decisão drástica: vamos nos mudar.
Tá bom, tá bom... De Methven para Ashburton nem tem tanta diferença, são apenas 34 km. Mas desde que a Nádia saiu daqui (uma gaúcha que alugou o quarto sobressalente de casa por um tempo) tem ficado cada vez mais apertado para pagarmos os 230 dólares semanais do aluguel, mais as contas de luz, telefone e internet e ainda a gasolina que o Ju usa todos os dias para ir trabalhar no McDonald's (que fica em Ashburton).

Vimos uma casa no TradeMe (o Mercado Livre daqui), ligamos para a dona e fomos ver.
A casa é bonita, nova, arrumada e ela aceita gatos. O aluguel em si é um pouco mais alto, 130 por pessoa. Mas este preço já inclui as contas de luz, telefone e internet (e a gasolina o Ju já não vai mais gastar porque pode ir trabalhar de bicicleta).
Ainda não temos certeza de nada, ficamos (nós e a dona da casa) de pensar. Mas fato é que vamos nos mudar para Ashburton mais cedo ou mais tarde. E eu pedi demissão do Lodge.

Sim, eu gosto de trabalhar do Lodge, mas se continuar trabalhando lá morando em Ashburton vou gastar a mesma gasolina que o Ju hoje em dia. E, de qualquer maneira, minha viagem para o Brasil vai ser daqui a mais ou menos um mês.

Mas foi enquanto estávamos em Ashburton que o Alfredo resolveu ficar rebelde. Paramos no New World (supermercado) para comprar créditos para o celular e quando voltamos, ele simplesmente resolveu não ligar. Problemas na bateria. Complicado é que compramos uma bateria novinha em folha para ele há cerca de um mês.
Por sorte (ou não), já estávamos preparados e tínhamos um starter (aparelho para dar a carga inicial na bateria) comprado semana passada.
Só que a partir daí, o Alfredo simplesmente parou de querer ligar. Só liga com o starter, e ainda assim sob muita reza brava.

Resultado: tive que ir trabalhar no Lodge usando o carro da Mãe e do Pai (e ela provavelmente só vai saber quando entrar aqui), que eles deixaram com a gente enquanto estão no Brasil para o caso de emergências como esta. Amanhã Ju vai trabalhar com ele também (que chama Fugly, porque é o carro mais feio peculiar que já vimos), enquanto eu levo o Alfredo ao médico. E lá se vão mais alguns dólares pela saúde do Alfredo.

Ainda enquanto estávamos em Ashburton, na vã tentativa de fazer a bateria recarregar, fomos rodando em busca da lendária praia. Até conseguimos ver um pedacinho do azulzíssimo Pacífico depois de uns 20km no meio do nada, mas não encontramos a estrada que nos levasse até lá. Mas valeu pelo passeio e por encontrar uma vila abandonada com a maior pinta de filme de terror no caminho.

E quanto às mudanças... Já diz a minha mãe: Vamos atravessar a ponte quando chegarmos lá.

segunda-feira, 23 de março de 2009

[Levando Sabedoria aos Ignorantes de Boa Vontade]

Um comentário da Luísa Saavik lá na comunidade Hilson do Orkut (uma comunidade sobre House da qual faço parte - a melhor comunidade do Orkut) me inspirou a criar este post.
Ela, que junto comigo faz parte das correspondentes internacionais da Hilson, fala diretamente de Londres, e postou o seguinte comentário:

"Cinco europeus a menos pensando que a capital do Brasil é o Rio. Fiz minha boa ação do dia."

Parei para pensar e percebi que nunca mencionei aqui as situações inusitadas, engraçadas e levemente preocupantes pelas quais eu e os demais tupiniquins habitantes das terras Kiwis já passamos.

A verdade é que - e pelo menos isso me aliviou um bocado - o Brasil é um país bastante conhecido (pelo menos aqui no meio Kiwi). Poucas foram as pessoas (na verdade, apenas uma me ocorre no momento) que ficaram com cara de interrogação quando algum de nós disse ser do Brasil.
A maioria esmagadora sabe que é o maior país da América do Sul, e que fica lá em algum canto perto da Argentina e do Chile (alguns ainda lembram da Venezuela e do Chávez, mas estes são bastante raros).

E, é claro, após revelarmos nosso país de origem, começamos uma contagem de quanto tempo demora até sermos interrogados quanto ao futebol, carnaval, praia e mulheres bonitas. A maioria leva no máximo 3 perguntas para chegar até lá (as primeiras costumam ser "De qual cidade você é?", seguido pela "Quantos habitantes tem em São Paulo?" e a expressão de espanto ao ouvir a resposta).

O momento mais fofo pelo qual já passei foi quando, no Ano Novo, o professor aposentado de Comunicação que mora lá no Lodge e morou quatro anos no Brasil (e que, a propósito, chama John e é inglês), enquanto fazia uma caipirinha com uma 51 em latinha que o Ju trouxe, começou a cantar "Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água, não. Cachaça vem do alambique. E água vem do ribeirão".

E não vou ser injusta com os Kiwis, os ingleses ou os australianos (espécies com as quais tenho maior contato devido ao Lodge). No geral, eles são bem menos ignorantes quanto ao Brasil do que a maioria dos brasileiros é quanto à Nova Zelândia.
Mas fato é que sempre se pode esperar perguntas e comentários dignos de serem motivo de piada entre nós.

Na categoria de comentários, houve uma vez quatro empresários que jantaram no Lodge há algum tempo. Ao servi-los, surgiu a pergunta sobre a minha origem, à qual eu sempre respondo com certo orgulho (e paciência para responder às perguntas conseguintes).
Um dos empresários, então, me diz que sua filha está estudando no Chile e estava guardando dinheiro para ir ao Carnaval do Brasil. Outro diz que esteve no Brasil durante um carnaval. O primeiro diz: "Não sabia muito bem o que era este tal de Carnaval, então fui procurar na Internet. Quando vi, falei para a minha filha 'Não! Este Carnaval não é lugar para você!". O segundo empresário emenda, dizendo que gostou muito do Carnaval, que ficou encantado e tal... O primeiro pergunta "Você deixaria sua filha ir para este Carnaval?". Ele responde "A minha filha não, mas os meus três filhos eu mandaria na hora!".

Comentários campeões de Ibope também são os clássicos "Eu adoro o Pelé!" e "Como vai o Ronaldo?". O vendedor de donuts de Christchurch sempre faz questão de recitar com o maior orgulho todos os anos em que o Brasil ganhou a Copa do Mundo.
Sobre estes assuntos eles costumam saber ainda mais do que eu.

Mas aí entra o momento em que dá vontade de rir na cara da pessoa e sair chorando em seguida. São aqueles comentários, aquelas perguntas que fariam qualquer professor de geografia se enforcar em um pé de couve na primeira oportunidade.

Para começar, sempre tem um espertinho que, ao ouvir que eu sou do Brasil, solta "Ah! A prima da tia do cunhado do meu irmão fala espanhol!". Hum... Que bom pra ela, camarada, porque eu só falo português e inglês, mesmo...

Depois tem aquela velha conhecida, a qual todo brasileiro em terras gringas deve estar preparado para responder com um sorriso, como se não fosse nada de mais. "A capital do Brasil é o Rio de Janeiro, né?". Não, meu amigo, e também não é Buenos Aires.

Passando pelas comuns, entramos na lista das mais exóticas. "Ah, eu conheci um cara que era do Chile. O Chile faz parte do Brasil, né?". Sim, trocamos pelo Acre uns dois anos atrás...

Mas a pior, a que dou Graças por não ter presenciado, aconteceu com o Ju atendendo uma cliente do McDonald's. Ela notou o sotaque, perguntou de onde ele era. "Brasil", ele disse. Ela, sorridente, "Ah, que legal! O Brasil fica perto da França, né?". Sim, quando vim para cá o avião precisou fazer um desvio porque estava em rota de colisão com a Torre Eiffel.

Ser brasileiro em terras gringas não é tarefa fácil. É necessária muita paciência, vontade de espalhar conhecimento e, acima de tudo, muito controle para não cair na gargalhada.



Obs.: E quanto ao Ju e a saga do dentista, tudo terminou bem graças a um (acredite se quiser) argentino. Um tal de Luciano Dantas é dentista aqui e fez o serviço dando aquele "jeitinho latino" para que saísse a um preço bem mais justo.

sábado, 14 de março de 2009

[O Dentista]

Preciso fazer uma lista de prós e contras da Nova Zelândia contra o Brasil.
Para a Nova Zelândia com certeza eu contaria o preço da gasolina, a ausência da crise econômica mundial (que para nós aqui é só lenda urbana oriunda de telefonemas para o Brasil), o preço dos carros, o salário mínimo, a falta de burocracia.
Já na lista do Brasil finalmente eu descobri o que colocar em primeiro lugar: Odontologia.

Não que aqui seja ruim. Na verdade, sei muito pouco. Só sei que desde que cheguei aqui notei a quantidade de kiwis com dentes tortos ou faltando.
Hoje levei o Ju, depois de sofrer mais de uma semana com uma dor de dente terrível (que o primeiro dentista disse ser "hipersensibilidade" e receitou Sensodyne), a um dentista de emergência em Christchurch.

Primeira facada: por ser consulta de emergência, sairia 100 dólares só para sentar na cadeira e abrir a boca para o tio. Tudo bem, com dor de dente é que ele não pode ficar.
Vai lá, senta, o dentista tira dois raios-x. Cada um por 20 dólares.

Conversa vai, conversa vem, o dentista (um indiano branco - o primeiro que vejo por aqui, deve ser da mesma casta de Gandhi) examina os raios-x e comprova o que o Ju e a dentista dele do Brasil já desconfiavam: Problema de canal.

Ótimo, então, vamos fazer o canal e... QUÊ???
Precisei limpar os ouvidos enquanto estava sentada ao lado do aquário (por que todo dentista tem aquário?) dentro da sala. Não pode ser, eu devo mesmo estar ficando louca... Tive a impressão de que ouvi o indiano dizer que o canal vai sair cerca de 2500 dólares.

É... Parece que ele realmente disse isso. E parece também que, mesmo custando uma passagem de ida e volta para o Brasil, ainda não é garantia de que o canal vai ser bem feito e de que não vai precisar ser refeito em um ano ou dois.

Aí, como também já esperávamos, o dentista deu a segunda opção: extração do dente. Junto com a prótese para os outros dentes não entortarem e mais para a frente o Ju poder fazer um implante, ficaria a bagatela de 1500 dólares.

Quis rir, chorar, me descabelar e enforcar aquele indiano. COMO ASSIM???
Um canal bem feito, sem necessidade de ser refeito em um ou dois anos, sairia em torno de uns 300 reais no Brasil. E a extração de um dente, cerca de 50. Tudo bem feito, sem medo de reclamações futuras.

Final da história: Por causa do dia no dentista (além de tudo, pegamos um chá de cadeira de umas 3 horas - li todas as revistas de fofocas da sala de espera), perdemos nossos dias de trabalho, Jo e Butch tiveram que se virar sozinhos em pleno sábado (dia que costuma ser razoavelmente cheio - cerca de 3 mesas com 4 pessoas cada) e nada foi decidido. Ju voltou para casa com uma receita de antibiótico e um opióide por cinco dias, a dor continuou e o dente ainda está lá.

É, parece mesmo que esta história continua...

quarta-feira, 11 de março de 2009

[Quem é Alfredo?]

Depois de seis meses rodando com o carro totalmente fora da lei, escapamento furado e sem velocímetro, chegou a hora (e a grana) de finalmente arrumá-lo.
Claro que a multa que o Ju levou na sexta com prazo de uma semana para arrumar tudo e mostrar para a polícia ou ter que pagar 400 dólares e ainda correr o risco de levar mais multas ajudou deu um empurrão para finalmente deixarmos o Alfredo em ordem.


Alfredo posando para a foto com Érica e Juliano

Alfredo, queridos amigos tupiniquins, é o nosso fiel companheiro desde que cheguei aqui.
Um Mitsubishi Lancer 1990 branquinho super simpático que nos custou 700 dólares e que quase nunca nos deixou na mão.
Ele foi batizado logo nas primeiras horas da Road Trip de setembro, quando já estava sem velocímetro, WoF e Registration.

Aqui nas terras Kiwis a papelada necessária para se ter um carro é bem menos... digamos... burocrática.
Qualquer pessoa pode entrar em uma agência do correio, pegar o devido papel, preenchê-lo com seus dados e os dados do carro e pagar a taxa de NZ$9,90 e pronto: o carro é legalmente seu. Assim mesmo, sem necessidade da presença do antigo dono, sua assinatura ou mesmo seu nome.
Para se ter noção, foi meu cunhado que passou o carro para o meu nome. Nem o dono antigo nem eu e o Ju estávamos presentes no momento.
Ai, se essa moda pega no Brasil...

E para se manter um carro a vida também é um bocado mais fácil do que no Brasil. Além da gasolina ser mais barata (agora anda em torno de NZ$1,65 o litro), as únicas taxas que você precisa pagar são a da Registration, que custa 50 dólares para cada 3 meses, e o WoF (Warrant of Fitness, ou Garantia de Funcionamento).
O WoF é mais barato do que a Registration, 45 dólares a cada 6 meses. Como o próprio nome diz, para tirar o WoF é preciso passar pelas mãos de um mecânico, que vai checar se tudo está funcionando como deveria e só então dar (ou não) a Garantia.

No nosso caso foi o que nos fez enrolar tanto para regularizar a situação. Quando levei a primeira vez para fazer o WoF, o orçamento do mecânico para consertar tudo ficava em 415 dólares. Como nunca tínhamos esta grana, acabamos enrolando, enrolando, enrolando...
Mas sempre chega a hora em que temos que colocar tudo em ordem. Ontem, então, levamos em outro mecânico para consertar o escapamento e ajustar o freio de mão. Hoje, para já resolver tudo de uma vez e colocar um fim no frio na barriga que a gente sempre tinha quando passava um carro da polícia por perto, levamos o Alfredo em Ashburton para trocar o cabo do velocímetro.

O mecânico levou um bom tempo para conseguir desparafusar todo o painel do carro (por que as montadoras não pensam nos pobres mecânicos e nos proprietários, que pagam aos mecânicos por hora de serviço?), cortou a mão e teve que "roubar" o cabo de outro Mitsubishi que estava no ferro-velho, mas finalmente conseguiu arrumar.
De lá seguimos para fazer o WoF, pagamos a Registration e pronto. Problema resolvido. E tudo saiu cerca de 350 dólares. Ou seja, o primeiro mecânico a que eu levei tentou me roubar na cara dura.

O engraçado é que, sem o barulho de escapamento furado, o carro parece outro. Vou demorar para me acostumar a dirigir sem aquela corneta rouca tocando na minha cabeça.
Outra coisa engraçada foi descobrirmos que durante todo este tempo sem velocímetro nós sempre andamos a pelo menos 110km/h quando a velocidade máxima aqui é 100.

Daqui pra frente, quase tudo vai ser diferente...

segunda-feira, 9 de março de 2009

[Mt. Hutt Lodge]

Comento tanto sobre meu trabalho no Lodge, sobre a Jo e o Butch (os patrões), sobre o uniformezinho amarelo ridículo que sou obrigada a usar, mas nunca mostrei fotos deles.

Pois bem, erro corrigido. Eis aqui fotos dos patrões e do casal brasileiro obrigado a usar o uniforme amarelo (cliquem nas fotos para ampliar):

Ela é australiana. Ele é americano filho de austríacos.
Os dois são patrões de brasileiros na Nova Zelândia.


Ju fica até galãzinho com este amarelo. Já eu...

As duas fotos foram tiradas no bar do restaurante (que é muito menor do que parece nas fotos) por um metido a fotógrafo que passou o ano-novo lá e achou que seria muito legal sair exibindo a Nikkon por aí. Pena que não sabia usar... Tive que cortar um monte destas fotos para conseguir um enquadramento um pouco melhorzinho.
Mas pelo menos ele mandou um CD com as fotos especialmente para "os garçons brasileiros cujos nomes ele esqueceu", o que é muito legal para mostrar (ainda que as fotos do Ju sejam MUITO melhores) o local onde trabalhamos na Nova Zelândia para nossos pais, avós, tios e quem mais quiser ver.

domingo, 8 de março de 2009

[O Hedgehog]

Hoje o Jack fez um amigo.

Cheguei do trabalho, depois de servir duas mesas (quatro pessoas). Sim, você leu direito. QUATRO pessoas. Meu trabalho é muito difícil e árduo e cansativo, como podem notar. E ainda assim meus patrões conseguem ficar estressados de vez em quando.

Aí cheguei em casa, com o uniformezinho amarelo dois números maior que o meu que sou obrigada a usar lá. Tenho a impressão de que a Jo (patroa) escolheu essa cor para ninguém ficar mais bonita do que ela (o uniforme dela é rosa-choque).

Estacionei o carro, abri a porta e dei de cara com um Ju todo feliz, me chamando "Vem cá ver, o Jack arranjou um amigo!". Vou para os fundos de casa, me enfio meio que no meio do mato que separa a nossa casa da casa do vizinho (que, por acaso, é nosso senhorio e chama Todd qualquer coisa - em linguagem para todo mundo entender, o dono da nossa casa) e, ajustando os olhos para enxergar no escuro, me deparo com algo muito parecido com isso:


Sim. Um hedgehog. Na linguagem tupiniquim, um porco-espinho.

Diferente dos porcos-espinhos do Brasil, estes não soltam os espinhos na boca do predador. Os espinhos são simplesmente uma carapaça que os protege contra ataques.

Como os do Jack.
Jack Geraldo estava lá, mais feliz do que criança passando aniversário na Disney, correndo, pulando e atacando o pobre bichinho. E o bichinho? Fazia nada, só ficava lá paradão na dele, fuçando as folhas do chão.

Até pensamos em tirar foto, mas o ditocujo estava num local terrivelmente desprovido de luz, o que nos obrigaria a usar flash, o que estressaria ainda mais o coitadinho.

Então fizemos o que qualquer pessoa faria vendo uma criatura tão fofa com essa cara de "me afague". O afagamos.
A sensação é muito parecida, praticamente igual, com a de afagar um cacto. Com a diferença de que ele não tem aqueles espinhos minúsculos que parecem farpas de madeira presas no seu dedo.
Tentamos fazer o simpático hedgehog (sim, eles são super simpáticos e amigáveis. Tem um na casa da Mãe que de vez em quando aparece na janela e fica fuçando o que a gente tá fazendo lá dentro) usar a técnica de defesa dos hedgehogs: virar uma bolinha.
Mas o fato é que o novo amigo do Jack não estava lá muito a fim de satisfazer as nossas vontades (e devia estar querendo matar aquele gato adolescente pulando nas suas costas), então continuou lá, paradão na dele, fuçando as folhas no chão.

Finalmente resolvemos pegar o tal gato adolescente e levá-lo para dentro de casa, para deixar o pobre hedgehog seguir seu caminho.
O Jack ficou feito louco tentando sair através das janelas para ir brincar com o novo amigo, mas depois de algumas tentativas frustradas desistiu e foi mamar orelhas.

A parte triste dos hedgehogs é que eles são em quantidade tão grande nesta época do ano que vivem sendo atropelados nas estradas.
Aqui dificilmente vemos cachorros e gatos atropelados (até porque não existe cachorro de rua), mas as épocas do ano variam entre possuns, hedgehogs e coelhos atropelados, vez ou outra alternando alguns corvos (seriam mesmo corvos aqueles pássaros corintianos?) e pardais.

Mas agora estou torcendo para o novo amigo do Jack ter gostado tanto do nosso quintal que vai trazer a família toda para morar aqui, e assim poderemos ver estas coisinhas fofas (não no sentido literal da palavra) passeando ao redor da casa e fazendo do Jack um gato mais feliz.

quarta-feira, 4 de março de 2009

[Os Testemunhas de Jeová]

Hoje fui visitada por Testemunhas de Jeová. Sim, eles existem até aqui.

Acordei cedo (às 9 e alguma coisa), mas a preguiça e a vontade de finalmente terminar de assistir Ella Enchanted me seguraram na cama até depois do meio-dia. Fiquei lá, deitada, fuçando na internet e sem levantar nem para escovar os dentes.

Aí me batem na porta. Xingando a quarta geração do visitante, espiei para ver quem era. Um homem de terno, gravata e chapéu de cowboy. Só a visão me faria rir por uma semana caso eu já não estivesse acostumada com a falta de senso de ridículo dos Kiwis.

Pensei em fingir que não estava em casa, mas as mesmas portas de vidro que fazem a casa tão linda e bem iluminada também servem como delatores para visitas indesejadas.
"Certo", penso eu, "lá vou". E fui. De pijama cor-de-rosa e um nada agradável bafo da manhã.

"Olá, bom dia! Desculpe ter incomodado seu descanso, mas eu estou aqui para lhe fazer uma pergunta". Juro que até este momento, eu não imaginei do que se tratava. Nem o outro homem de terno, gravata e chapéu de cowboy sentado numa cadeira de rodas na entrada de casa me deu a dica.
"Você lê a Bíblia?". Acho que o barulho da ficha caindo deve ter sido ouvido lá pelas bandas e Ashburton. "Leio, todos os dias". Sabe como é, o médico mandou não contrariar.
"Ah, que ótimo! Pois eu tenho aqui um livro que vai ajudar o seu entendimento do livro sagrado". Ele tira da bolsa um livrinho chamado "What does the Bible really mean?". Céus, por que eu não fingi mesmo que a casa estava vazia?
"De onde você é?" o homem pergunta, ainda não sei se pelo sotaque ou se pelo estranho hábito de levantar da cama ao meio-dia (coisa que não existe por estes lados). Respondo, e ele "Ah, sim... Tem muitos católicos no Brasil, né? Você é católica?".
Céus. E agora? Digo que sou e ele tenta me transformar em seja-lá-qual-religião-ele-esteja-pregando ou digo que não sou e ele tenta me transformar em seja-lá-qual-religião-ele-esteja-pregando?
Digo que sou. Mais fácil isso do que ter que inventar outra religião, porque dizer que sou sem-religião para estas pessoas é o mesmo que dizer que sou satanista e não estou a fim de sermão a esta hora do dia.

"Você se incomodaria em ficar com este livro? Não precisa ler inteiro, nem virar Testemunha de Jeová por isso" Ah, são Testemunhas de Jeová... ", mas é uma boa leitura para quem está de mente aberta" Calma... Calma, Tati... Você anda sonhando acordada... Parece até que acabou de ouvir um Testemunha de Jeová dizendo que você tem que ter a mente aberta...

Certo. Melhor aceitar logo o livro, sorrir simpaticamente (afinal, o cara foi simpático e gentil, não há motivos para destruir o dia dele), desejar um bom dia e deixar ele ir.
Ah, mas claro... Preciso marcar uma hora para devolver o tal livrinho. Semana que vem, mesmo bat-dia, mesmo bat-horário? Certo, então. Escrevo meu nome (porque se "Tatiana" é impronunciável para eles, pior ainda fica para escrever) no caderninho para que ele possa me encontrar, dou finalmente bom dia e tchau.

Entro, fecho a porta e deixo o livrinho sobre a mesa.

Pelo menos agora tenho uma semana para pensar na desculpa que vou dar da próxima vez...