sábado, 4 de setembro de 2010

[Bem vindo, Ralf!]

Não comentei aqui e nem em outros lugares, mas há uma semana perdemos nosso cachorro. Nesky, o vira-lata, morreu rápido numa manhã de domingo. Como minha avó, um ano e meio atrás.

Luto à parte - e acreditem, Nesky faz muita falta -, corremos atrás de um novo cachorro. E por "nós", devido a meu histórico cigano, talvez seja bom explicar que me refiro a meus pais, eu e minha irmã.
Dois ou três dias depois, minha mãe já sabia de uma amiga da faxineira que tinha um mestiço de pastor alemão de quase dois anos de idade que tinha brigado com a gata e portanto estava sendo entregue à doação. Lá vai minha mãe, conhece o cachorro, a família, acerta tudo e no sábado ele vem para casa.

Sábado. Hoje.
Hora do almoço, pára uma caminhonete na frente de casa. Com Ralf, o príncipe-mestiço, na caçamba.
Magrelinho, coitado. Não por maus-tratos, mas por falta de condições da antiga família de o alimentar o suficiente. Como aqui nessa casa não toleramos ninguém mais magro que os donos - o que não é difícil, notem por meu porte físico -, já demos início ao regime de engorda. Ração durante o dia e sopa de carne moída com arroz, beterraba e cenoura no jantar. Cachorro aqui come melhor que muita gente pelo mundo.

É medroso, coitado. Ou talvez só esteja assustado pela mudança repentina de casa, família e comida. Se bem que, pela reação à comida, não creio que ele terá um grande problema para se adaptar.

E, por razões que estão além de nossa compreensão, ele gostou da Mari. Mari, minha irmã, que tem rinite alérgica e espirra só de pensar em qualquer coisa que tenha pêlos. Mas que, apesar disso, adora animais. Escolheu a dona, por assim dizer. Vai entender.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

[Ich liebe Deutsch]

Porque neste semestre finalmente comecei minhas tão esperadas aulas de alemão. E eu amo, amo, amo, amo.
E como tudo o mais que eu amo, aconteceu de repente. Em um momento, alemão era apenas mais uma língua. Agressiva, estranha, conhecida por mim apenas pelas gravações dos discursos de Hitler. Até que houve o momento seguinte.

Lembro como se fosse ontem. Eu conversando com um amigo virtual. "Preciso conhecer mais bandas", eu disse, "Estou enjoada das que conheço". "Ouve esta música, então", diz meu amigo, me enviando um arquivo.

Era Rammstein. "Eins... zwei... drei... vier... funf... sechs... sieben... acht... neun" e pronto. Eu caí de amores. Deste dia em diante Rammstein nunca mais saiu do meu MP3. E é a única banda cujas músicas eu não consigo escolher. Pego todas, coloco no MP3 e torço para caber as de outros artistas no que sobrar dos 4Gb.

Mas meu momento de paixão ocorreu há 7 anos, mais ou menos. E só agora, finalmente, eu comecei a ter aulas de alemão. Como currículo na faculdade. De graça.
Com professora alemã autenticada em cartório. Norma Wucherpfennig. Conseguir pronunciar o sobrenome dela é minha próxima meta.

Por que alemão? Não vou negar: uma língua agressiva e estranha. E difícil, devo acrescentar. Mas é ao mesmo tempo poética, melodiosa e expressiva como nenhuma outra. Dizem os boatos - e eu em boa parte concordo - que alemão é uma língua que possibilita entendimento mesmo quando o interlocutor não sabe uma única palavra. Suas palavras, sua entonação, sua musicalidade permitem, com certo esforço, que seja compreendida.

E poética. Goethe e seu Faust que o digam.

A língua da filosofia, da música, da expressão. Do expressionismo.

A língua de Mozart, Chopin, Beethoven, Wagner, Nietzsche, Freud, Einstein, Murnau, Klaus Kinski, Herzog. Além do já citado Goethe e de Kafka, que era tcheco mas escrevia em alemão. Tudo o que um dia ainda vou ler no original.

E uma língua para a qual eu sinto uma facilidade natural. É difícil, dificílima, mas é como se eu já conhecesse todas as palavras, entendesse a gramática, soubesse com os fonemas. Tudo só esperando para acordar na minha cabeça.

Por isso e por motivos que só ouvindo Rammstein ou Lacrimosa consigo entender é que Ich liebe Deutsch.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

[Sacodindo a Poeira]

Eu disse que voltaria. Certo, não disse quando. Mas deixei claro que voltaria. E voltei.

Com novidades que já não são tão novas assim. Mas que ainda servem para atualizar este cantinho simpático e doce que é meu blog.
Senti saudades. Não vou mentir, por um tempo foi tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, tanta novidade e tanta gente nova que conheci que cheguei até a esquecer daqui.
Mas já faz um tempinho que ando pensando em voltar. Pois bem, voilà. Aqui estou.

Da última vez que estive aqui, eu ia prestar a segunda fase do vestibular da Unicamp. É. Passei. Em 14º lugar. Excelente, para quem já nem lembrava mais o que era Física. Química eu nunca soube.

E aí foi um tal de corre daqui, corre pra lá, corre pra cá, corre de volta pra lá... Fazer matrícula, procurar lugar para ficar, procurar lugar barato para ficar, não achar lugar barato para ficar, ficar no lugar que não é barato mas que é o único lugar... Dia 8 de março começaram minhas aulas.
Lingüística, Unicamp. Só para situar.

Aí começou. Oi, prazer, meu nome é Tatiana, e o seu?. Oi, sou a Tatiana, e você?. Oi, Tatiana, e você? Oi, Tatiana. Oi, Tati. Tati. Só Tati.

Ufa! Nem fazendo uma lista eu seria capaz de lembrar de todos os nomes e muito menos das caras de todo mundo que conheci em uma, duas semanas. Até em festa eu, a anti-social, a que não gosta do ambiente, fui. E me diverti.

Cinco matérias de nomes escalafobéticos: História das Idéias Lingüísticas, Introdução aos Estudos da Linguagem, Linguagem e Investigação em Ciências Humanas, Textos em Teoria Crítica e Historiografia Literária, Pesquisa XII: Historiografia Literária. E Latim I. Decoraram? Nem eu. Só mesmo os nomes dos professores.

Suzy Lagazzi. História (...)
Wilmar D'Angelis. Introdução (...)
Sirio Possenti. Investigação (...)
Marcos Siscar. Historiografia Literária. As duas.
Marcos A. Pereira. Latim I

Tirando a aula de Latim, é assim que vocês vão me ver referindo às aulas. "Aula do Sirio", "Aula do Wilmar", "Aula do Ciscando". É. "Ciscando". Os motivos não vou dizer. É antiprofissional.

Empolgação. Animação. Sala pequena, 18 alunos. Eram 19, mas um desistiu.
Anti-social ou não, exercitei minha sociabilidade. Conheci o Paulo, o Claus, a Liciane. E mais um monte de gente que ocuparia uma página inteira deste blog só para citar os nomes.

E eu, numa kitinete do tamanho de uma cozinha, do lado do campus. Cama, armário, mesa para o computador, TV, pia, fogão, geladeira. Tudo muito bem encaixado, senão não cabe.
Sozinha, muito obrigada. Não, eu e o Ju estamos bem. Só que ele continua dando aulas de inglês (a agência de viagens já se foi faz tempo) e não quis sair de São Paulo. Nos vemos aos fins de semana, alternando entre lá e São Pedro.

Dois meses depois, estou aqui. Me acostumando à nova rotina. Me divertindo, mesmo sem ir em festas. Morando em Barão Geraldo durante a semana e pegando a casa dos outros emprestada de sábado e domingo.

E, me perguntam, que diabos eu quero fazer com Lingüística? Bom... Acho que quem acompanha este blog há quase dois anos já deve ter percebido que dentro desta autora existe uma alma cigana que não se preocupa com mudanças e tampouco se enche de planos a longo prazo. Prefiro seguir o lema do A.A.: Um dia de cada vez.
Uma boa forma de dizer "Não sei e não quero sabê-lo".
Mas, como sempre, estou amando muito tudo isso.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

[Late but not dead]

Com um pequeno (certo, não tão pequeno assim) atraso temporal, e sem perder tempo com os devidos pedidos de desculpas pela minha ausência e respectiva falta de explicações, enfim a boa autora ao blog retorna.

Sim, estou de volta ao Brasil. Definitivamente, desta vez. Incluindo um vestibular, com sua segunda fase a ser prestada neste domingo. E, neste meio-tempo, com um emprego de final de ano frustrado na C&A, o que representou o choque final da nossa decisão de desistir dos 13 dólares neozelandeses por hora para me entregar a míseros 3 reais. TRÊS reais. Calculem quanto tempo eu preciso trabalhar para comprar - digamos - um par de meias na mesma C&A onde trabalhei.

Mas é o preço. E, além do mais, nossos vistos iam vencer e tirar novos vistos anda cada vez mais difícil lá para as terras Kiwis. Sinto saudades, muitas saudades. Do país, da gentileza das pessoas nas ruas, do meu dinheiro, do Alfredo, do Jack...

O Jack. Jack, The Cat. Nosso pequeno filhote. Não conseguimos trazê-lo, precisávamos de 1300 dólares para isso. Ficou com o Jairton. E desenvolveu uma leucemia felina, juntamente com câncer nos rins, fígado e provavelmente no cérebro. Nada a ser feito. Quem acompanhou este blog no último ano deve imaginar o quanto foi difícil para mim e, principalmente, para o Ju.

As partes boas de ter voltado? Família, principalmente. Amigos, antes que enlouquecêssemos. A língua. Minha amada, linda, poética e - palavra de Kiwi - romântica língua portuguesa do Brasil. Aliás, não por acaso, o tal vestibular cuja segunda fase vou prestar esta semana é para o curso de Lingüística, na Unicamp. Me desejem sorte.

Já com o Ju as coisas aconteceram mais rápido. Em uma semana de entrega de currículos em São Paulo conseguiu dois empregos. Professor de inglês e agente de turismo. Alugou um apartamento de dois quartos, uma gracinha. Vou para lá depois do vestibular.

Pois é. Pela primeira vez na minha vida estou fazendo algo que, no meu já longínquo terceiro ano do ensino médio, jurei não fazer: estudar para o vestibular.
Certo, admito que não tão avidamente ou com a mesma disciplina que deveria. Mas o suficiente, espero eu.

Quanto a este pequeno, aconchegante e simpático blog, ainda estou pensando o que fazer. Acho que, de qualquer forma, manterei o Kiwi como mascote. Boas lembranças demais para ser chutado assim, sem razão. Já quanto ao nome... Quão estranho soa "aventuras e desventuras na terra dos Kiwis" quando já estou de volta ao Brasil?

E por hora são estas as novidades. Apenas para dizer que, sim, estou atrasada. Mas longe de ter morrido.