segunda-feira, 13 de abril de 2009

[Último Dia do Primeiro Trabalho]

Hoje foi o meu último dia de trabalho no Lodge. Uma noite de segunda, bastante tranqüila e pela qual recebi 50% a mais porque é feriado.
Sim, aqui tem mais esta vantagem: em feriados nacionais o pagamento é "time and a half", ou 50% maior.

Vou sentir saudades da Jo e do Butch. Apesar de muitas vezes eu ter sentido vontade de enforcá-la (só a ela, o Butch sempre foi extremamente legal comigo), os dois foram os melhores primeiros patrões que eu poderia ter tido. Muito pacientes desde o meu primeiro dia, sempre me explicando tudo e me ajudando a aprender. Preciso lembrar de mandar cartão-postal do Brasil e de trazer uma lembrancinha para eles.

E as últimas pessoas que eu atendi sob o cargo de garçonete do Mt. Hutt Lodge foram um casal de escoceses que está hospedado lá. Conversei durante muito tempo com eles (a ponto de eu ter que prometer aos patrões - que são tão pão-duros quanto qualquer outro patrão - que iria descontar 10 minutos do meu pagamento). Os dois são muito simpáticos, trabalham com estudantes internacionais e ficaram bastante interessados em mim, me enchendo de perguntas sobre a minha relação com a língua inglesa, se eu consigo perceber sotaques e coisas do tipo. E, como todo bom britânico, eram absurdamente educados e me passaram nome, endereço e telefone para que eu os visite quando for para a Escócia (que, bom, é um dos primeiros países na lista dos que eu quero conhecer - preciso descobrir o Monstro do Lago Ness).

Terminando a noite como qualquer outra, lavei todos os pratos (o que significa os dois do casal e os dois dos patrões), arrumei a cozinha e vim embora. Volto lá na quarta para buscar o pagamento da semana e entregar os horríveis uniformes amarelos.

E, ainda extra-oficial, viajo na segunda que vem. Só preciso marcar a passagem.

domingo, 5 de abril de 2009

[Os Últimos Dias]

Mudamos, afinal. Não para a casa que tínhamos visto, mas para a casa do meu cunhado, na fazenda. Sim, voltamos para a fazenda. Mas temporariamente, já que devo ir para o Brasil daqui a uns dez dias. Assim que eu for, Ju vai pegar as malinhas e mudar para Ashburton.

Os últimos dias foram difíceis. Os mais difíceis dos vinte anos da minha existência. Nunca antes havia estado tão triste. Minha avó morreu na segunda-feira, sem aviso nenhum. Ainda estou juntando meus cacos espalhados pelo chão.

Mas a dez dias de embarcar, não quero me alongar neste assunto. Já chorei demais e sei que ainda vou chorar mais quando chegar no Brasil, portanto agora vou me focar nos assuntos daqui.

Meu último dia no Lodge deve ser dia 13, segunda-feira que vem. Jo e Butch, os patrões, nunca estiveram tão bonzinhos. Eles gostam muito de mim, e eu tenho muito a agradecer a eles. Quando comecei não sabia fazer nada, e agora sou quase expert na cozinha.

E hoje a casa recebeu um novo hóspede! Hoje à tarde Ju chegou do trabalho e veio me dar oi. Demorei um tempo para perceber que o gato no colo dele era escuro e pequeno demais para ser o Jack.
Ju, que não gosta de gatos, voltava do trabalho quando atravessou a ponte do Rakaia. No meio da ponte, um gatinho atropelado. Tristezas à parte, Ju olha com mais atenção e bem ao lado, outro gatinho. Vivo. Miando. Desesperado, e certamente condenado à mesma sina do primeiro.
Sem hesitar, Ju parou o carro e enfiou o gato dentro. É um menino, e demoramos um tempo para assim percebermos porque as bolinhas dele são tão pequenas que confundimos com uma menina. Deve ter um pouco menos que a mesma idade do Jack e da Meg, mas é bem menor e mais magrinho porque não foi bem alimentado.
Jack, um verdadeiro gentleman, já deu as boas vindas e fez amizade com o novo hóspede. Meg, eternamente bicho-do-mato, não quer nem saber e está morrendo de ciúmes, afinal ela é a melhor amiga do Jack.
Ainda não sabemos o que fazer com o pequeno. Talvez meu cunhado fique com ele, talvez eu fique, ou talvez coloquemos anúncios nos supermercados à procura de um novo lar.
Só sei que ele é uma gracinha, preto com reflexos cinzas, olhos verdes, e bem amigável. E fez xixi dentro do Alfredo, acho que nunca mais sai o cheiro.

E assim se passam os meus últimos dias na Terra dos Kiwis (calma, calma, eu volto em dois meses).